domingo, 24 de agosto de 2008

(2008/009) Mito


1. Não havia Sol. Não havia Lua. Dia e Noite dormiam. Nada bocejava no abismo. Letargo ronronava como Atom. Nigérrimo beijava REM. Só Ele despertara. O perfume dEla, ele disse aos companheiros, o perfume dEla.

2. Amaram-se na Matéria Negra. Amorfo resguardou o olhar. Rubicundo corou. Gozo estremeceu. Lágrima saiu a ver. Desequilibrou-se. Escorregou. Caiu. Rolou. Olharam-na, ainda arquejantes. Caindo. Prigogine dirá que isso é História. Foi Prazer.

3. Inércia tocou com o dedo. Lágrima abriu-se em flor. Abelhas azuis lamberam-lhe a boca. Voaram. Pousaram. Jardim e Cio polinizaram-se. Orgia se fez. Carbono era seu nome. Irmão de Tudo. Pai da Vida.

4. Nós acordou. Ao redor, coito e morte. E Nós, com o fogo no crânio. E Nós, com o fogo no sexo. E Nós, com o fogo nas mãos. Multiplicar. Construir. Imaginar. Acendeu o fogo, e as chamas dançaram - e Nós, com elas.

5. Doeu-lhe a solidão de ser. Acompanhou as sombras até as câmaras de Amor e Libido. Tocou-lhes as faces. Cobriu-lhes a nudez. Secou-lhes os suores. Erigiu-lhes altares. Logo, palácios, e tronos, e cárceres, e rodas. Fomos felizes por uma noite.

6. Fora - contudo - uma áscua da fogueira.

7. Que apagamos.

8. A longa noite se foi. O dia amanhece.

9. Por que choras, amor?

10. Tu és tão quente...

11. Tua lágrima...

12. Escorreu. Chegou ao canto da boca. A ponta da língua a encontra e sorve.

13. Ele a beija. Mas Nós não mais é testemunha.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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