sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

(2020/009) Sobre Karl Barth e eu ter sido chamado de burro


Quando o tempo passa, cago e ando. Mas quando do acontecimento, quem é que não fica pelo menos corado? Há alguns anos, filmaram-me (de óculos escuros, porque meus óculos de grau haviam quebrado e eu precisava de graus) falando sobre Karl Barth. Não é minha especialidade, mas sempre li gente boa sobre ele e li alguma coisa diretamente dele.

Anos depois, um desafeto me chamou em redes sociais de burro, porque o que eu dizia naquele vídeo para alunos era tudo imbecilidade, segundo a avaliação competentíssima do julgador desafetado. Se respondi? Nunca. Por que me lembro disso? Porque uma pessoa honesta, por mais que esteja convencida de não ser o idiota que seu desamigo considerou, sempre se pergunta se, realmente, não o é.

Na verdade, eu já havia escrito alguma coisa sobre, quando então afirmava que, se eu era idiota, então o Gibellini de A Teologia do Século XX também era, porque ele concordava com o que eu havia dito quase que na totalidade. Mas eu nunca mais voltei ao tema, e isso tem uns seis ou sete anos já. Não me interesso por Barth, afinal...

No entanto, hoje estava lendo as cartas de prisão de Bonhoeffer. Na carta a Eberhard Bethge, de 30/04/44, Bonhoeffer fala de Barth exatamente o que eu dissera. E, com ainda mais vigor e tempo, fala ainda mais na carta ao mesmo amigo, datada de 05/05/44. Ambas podem ser lidas em Resistência e Submissão. Se eu sou burro, estou muito bem acompanhado!

Vou citar apenas um trechinho de Bonhoeffer: "(Karl Barth) substitui (a religião) por uma doutrina positivista da revelação que te diz 'é pegar ou largar'; quer se trate do nascimento virginal, da trindade ou do quer que seja, cada coisa é igualmente significativa e necessária para o todo, o qual deve ser engolido inteiro ou não é engolido de jeito nenhum" (está na segunda carta mencionada). É exatamente o que eu havia dito, ainda que com outras palavras - Barth assume a doutrina positiva da Igreja como revelação e pronto. Burro, eu! Mas que orgulho!

Nunca li Barth em alemão, e isso deve significar que há elementos de sua teologia - datados, principalmente! - que eu não alcance exatamente. Mas, no que diz respeito ao sistema geral, é exatamente, segundo Gibellini e Bonhoeffer, como o burro aqui dissera. Devo assumir que eu não seja, afinal, burro, porque, se eu continuar colocando sobre a mesa a hipótese tão deselegantemente me arrostada, teria que emprestar aos dois magistrais autores citados a mesma classificação. Eu até poso ser, mas Bonhoeffer? Duvido...







OSVALDO LUIZ RIEIRO


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