quarta-feira, 23 de outubro de 2019

(2019/028) Fragmentos facebookianos de há um ano II

I.

O livro de Cânticos dos Cânticos é e não é um livro sobre erotismo. É, porque há cenas literais de relação sexual entre o Amado e a Amada. A maior cena do texto inteiro é a descrição belíssima, e em detalhes quase que (se não já) ginecológicos, além da série de descrições do corpo da Amada, inclusive a última, quando ela dança para o Amado, para provocar excitação sexual nele. Mas não é, porque o tema do erotismo está diretamente atrelado à crítica política da situação da mulher na comunidade judaíta do segundo Templo, estando vinculada à maldição de Eva: teu desejo será para o teu homem e ele te dominará. Logo, toda a carga de sexualidade e erotismo do livro é uma teia de captura da crítica radical e impressionante à teologia sacerdotal.


II.

_Quanto é para disparar essas mentiras? Precisa do quê?
_12 milhões. E precisa de muitos otários.
_Tenho os dois.


III.

_ Que horas você volta hoje, amor?
_ Izabel Ribeiro, em tempos bolsonarianos, homem não fica dando satisfação à mulher de a que horas vai voltar, não. Homem chega a hora que quer!
_ Tá, Osvaldo Luiz Ribeiro, mas então tenho que avisar ao Ricardão, porque em tempos bolsonarianos é isso que homem tem que receber: chifre nos cornos!
Izabel Ribeiro é má. Mata na unha. Não ganho uma.


IV.

Acho que a retórica da dignidade humana não encontra nenhum significado na consciência popular. Acho que ela tem de ser traduzida.


V.

Na condição de adesão a doutrinas, a fé é um câncer. Não há argumento, não há lógica, não há fato que demova o crente em crenças, quanto mais circule no meio da crença a declaração de que a fé é virtude. Mas não é: é uma tonteria, uma tolice, uma estupidez, quando, a despeito de toda evidência, de todos os conhecimentos, se acredita em quimera, mitologia, estupidez. A igreja brasileira converteu-se nisso, e só nisso. Se vocês lerem Deus e os homens, de Voltaire, ele culparia os pastores e as pastoras, velhacos, ele os chamaria, porque transformaram a religião em fossa de crença, em parto de imbecilidade, em processo contra-civilizatório, contra-ético, contra- humano. Que caia sobre essa geração de pastores e pastoras envolvidos da imbecilização fundamentalista e cega do povo da crença todas as pragas do livro que, mentindo, dizem que seguem.


VI.

Toda vez que, como fato para além de crença, alguém fala em "vontade" ou "modelo de Deus", revela-se um ignorante ou um canalha.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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