sexta-feira, 10 de maio de 2019

(2019/017) Fragmentos facebookianos

I.

Começa chamando crença religiosa de conhecimento. Termina com fake news substituindo a realidade.

Vai, brinca de ser pós-moderno.


II.

Toda alegorização do texto bíblico visa a alguma espécie de manipulação, e sempre se dirige a pessoas sem conhecimento de causa.


III.

A estupidez da massa evangélica, estatisticamente, pelo menos metade dela, revelou-se-me quando os seus primeiros líderes-jumentos acusavam todo mundo de liberais. Ali dei-me conta de que estava diante da gente mais imbecil do mundo religioso...

A teologia liberal foi, como evento datado do final do século XIX e início do XX, uma tentativa de "salvar" os cristianismos para aqueles que ainda haviam preservado pelo menos dois neurônios. Era impossível para quem decidia levar-se a sério, bem como a religião, admitir doutrinas religiosas como veículos de qualquer tipo de verdade ou revelação, porque não eram nada além de criações culturais. Doutrina é mito. Ponto.

Mas como pretendiam salvar assim os cristianismos? Eles pensaram em um jeito de, ainda que admitindo tratar-se as doutrinas de mito, haver garantias da presença de Deus entre eles. E como acharam uma solução? Os sentimentos: Deus está presente entre o povo crente e a prova são os sentimentos, a experiência profunda, não mediada pelas doutrinas, mas pela experiência aqui e agora...

Ora, qualquer ameba pré-Mobral sabe que toda essa segunda parte é o discurso evangélico brasileiro, sem tirar nem por: a experiência, os sentimentos, o culto, que faz chorar, essa é a prova da verdade e da presença de Deus... Todas as igrejas evangélicas são liberais: todas, sem exceção, e vinha a besta de Jesus me falar que os liberais são hereges... Eu percebi que tinha diante de mim um ignorante, um celerado burro até o tutano, ou um canalha sem-vergonha. É exatamente esse tipo de crente que está com o candidato fascista: metade gente burra, metade gente canalha.


IV.

Eu não estou em casa. Esse mundo não é meu. Esse mundo não é meu mundo. Pariram-me, sem me dizer se queria, e eu não queria. Não nesse mundo. Que mundo é esse de experimentar medo? Que mundo é esse de desejar o medo nas pessoas, de querer feri-las? Não, não estou em casa.


V.

Primeiro, admitir, sim, que temos medo.

Segundo, a despeito do medo, dizer que estamos de pé, firmes, e que resistiremos, haja o que houver.

Terceiro, dizer que, se nós mesmos não formos vítima direta da violência, mas nossos compatriotas forem, tomarem sua defesa como nossa obrigação e honra.

Quarto, dizer que venceremos, de um jeito ou de outro.

Quinto, dizer que não haverá paz para quem for desumano, degenerado, racista, homofóbico, misógino: um formigueiro há de comer a sua carne.


VI.

O cristão típico perdeu, se algum dia teve, a capacidade de aprender, de estudar, de avaliar. Sua mente opera única e exclusivamente na reprodução de suas doutrinas, de sua cosmovisão, do que ele assumiu como dogmática verdade divina.

Por exemplo: ele é capaz de tomar textos de diferentes épocas, um de 2.700 anos, um de 2.400 anos, um de 2.000, juntar tudo isso e ler a partir do sermão dominical, como se as palavras de todos esses textos significassem a mesma coisa.

A teologia faz isso. Mesmo a alta teologia. Quando esse procedimento chega ao púlpito, já chega deteriorado. Na cabeça do cristão médio, é chorume puro.

O mais difícil de ser exegeta em um mundo teológico é que as pessoas acham que você está fazendo o que elas fazem.


VII.

Ah, amigos meus que detratavam dia e noite a Modernidade como violência... Ah, os delírios fantasiosos, psudeoutópicos (porque lisérgicos)... Jogaram fora os princípios da racionalidade e o que temos é um estado dantesco, uma aberração social, uma depravação ético-moral contra a qual não se pode argumentar, porque a racionalidade moderna não tem nenhum lugar nesse status quo... Meus amigos devem estar todos alegres, felizes, pelo fato de a Modernidade ter sido finalmente vencida em solo brasileiro...


VIII.

A facada é fake,
Os fakes são fakes.
A família é fake.
Menos a fortuna.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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