Em outro trecho da aula de ontem, Hermenêutica do Antigo Testamento, eu mostrava como, depois de invadir a Península Ibérica, Aristóteles implodiu pouco a pouco toda a cristandade, resultando diretamente na Reforma. Bíblia na mão do "povo" e o novo papa protestante mandando todos lerem a Bíblia, ela foi lida. Do século XVI ao XVIII, a Bíblia foi desmontada. Desenvolveu-se a metodologia histórico-crítica.
Os livros conservadores, e até gente boa "pós-moderna" (quantas gargalhadas eu dou), insistem em divulgar uma inverdade (mas o que é a verdade para pós-modernos e conservadores, não?): os métodos histórico-críticos são "iluministas"... Eu não sei se é ignorância ou má fé...
Pois bem: os métodos histórico-críticos desenvolveram-se do século XVI ao XVIII, ao passo que o Iluminismo se desenvolve no século XVIII. Não é honesto dizer que os métodos histórico-críticos são iluministas. É mais honesto dizer que o Iluminismo é histórico-crítico! No máximo, são irmãos siameses... Mas eu ainda afirmo que o Iluminismo é resultado, não causa.
O Iluminismo não foi gestado por ateus, por apóstatas, por homens diabólicos a serviço do Diabo. O Iluminismo foi gestado por protestantes, uma de cujas correntes lia a Bíblia há 200 anos e percebia, inequivocamente, que tudo que se dizia sobre o processo de produção do livro Sagrado não passava de contos e lendas, e que a Tradição não continha praticamente nenhuma declaração fiel sobre as Escrituras. A Bíblia da Tradição não correspondia às Escrituras de fato...
Engana-se e engana a todos os tolos crédulos quem diz que o Iluminismo e os métodos histórico-críticos nasceram da heresia, da rebeldia, da subversão. Pelo contrário: nasceram de gente espiritual, pastores, fieis estudantes da Bíblia, que, todavia, ao contrário de muita gente por aí, não arrancaram os olhos da cara.
Moral da história: a crítica bíblica foi parida pela reverência, pela espiritualidade, pela consagração... Quando essas virtudes religiosas não se filiam à hipocrisia e à sordidez de caráter, é o resultado que se espera...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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