"Deus" não é plural. "Deus" e singular. Plural é "Deuses", "Deusas". Eu entendo que quem use a expressão "Deus é plural entenda estar a serviço de compromissos éticos. Pode até ser: compromissos. Mas o produto entregue não é ético...
Por trás da instrumentalização da fórmula "Deus é plural" está a teologia inclusiva: todas as manifestações culturais de deuses e deusas nas religiões do planeta são atualizações de um e um único verdadeiro "Deus" - claro, como não podia deixar de ser, o "Deus" cristão.
Se você não pode matar os deuses deles, faça-os aos poucos irem acreditando que, no fundo, todos os deuses são apenas faces do nosso "Deus"... Evangelização política.
Acho essa estratégia uma peça de cinismo.
Não é verdade que os deuses e as deusas dos povos são as faces do deus cristão. Mentira. Os deuses de cada povo foram inventados pelos próprios povos. Cada povo inventou seu deus e, depois, quando os povos começaram a se encontrar, iniciou-se a fase histórica das imbricações, sincretismos e, mais tarde, o ignominioso e criminoso monoteísmo.
À luz da história, a fórmula "Deus é plural" consiste apenas na tentativa de disfarçar o que é violência e rapina...
Os deuses e deusas dos povos devem ser respeitados em sua alteridade cultural. Não é um caminho ético pretender alcançar a paz com ignorância instrumentalizada: todos os deuses são um só! Fraude. Exu é Exu, e não é "Deus". Buda é Buda, e não é "Deus". "Deus" é "Deus", uma personagem da história humana com a mesma densidade ontológica que Exu, Buda, Zeus, Krishna, Quetzalcoatl, Manitu, Pacha Mama. Ísis, Maria, Diana, Asherah... "Deus" é da mesma dimensão epistemeológica que um simples kami de arroz... Se quer que "Deus" seja respeitado, respeite os orixás, sem fazer deles epifenômenos, fruto da ignorância teológica.
Paz sem voz não é paz.
É medo.
Ou imperialismo teológico.
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