A Bíblia cristã, considerando-se qualquer dos cânones, e incluídos os dois chamados Testamentos, está cheia de contradições, de Gênesis a Apocalipse...
Essas contradições são a prova de que os livros não são mera invenção da cabeça de um zé qualquer, mas são fruto de conflitos históricos, reais. Os mitos que esses textos carregam são invenções da cultura, tradição, mas, na prática, serviam de arma retórica, de plataforma de discurso político, de ideário ideológico, de argumento.
Muitas comunidades diferentes, com mitos e tradições diferentes, valores diferentes, credos diferentes, interesses diferentes, escreveram textos em seu contexto de enfrentamento mútuo. Cada texto é a resposta unilateral de uma comunidade ao conflito com outra comunidade. De sorte que em nenhuma hipótese, salvo malabarismos fundamentalistas, trata-se de um discurso, uma fala, uma doutrina, um texto. São várias falas, várias teologias...
Um exemplo só, porque, para quem não quer ouvir, nem mil servem: Nm 12,8 versus João 1,18 revela que ou quem escreveu João não tem a mínima noção da Torá, ou tem, mas está se lixando para ela... Considerando-se que a Torá é citada nos v. 16-17, está claro que é conflito - quem escreveu João 1 está desconsiderando o que a Torá diz, e constituindo ele mesmo sua própria teologia. Se o leitor hoje finge que não vê e inventa de sair dizendo por aí que a Bíblia não tem contradição, só há de desfilar a sua ignorância - inclusive bíblica - pelo mundo.
No fundo a maior virtude histórica da Bíblia é o fato de ela ter-se constituído em conflito - porque o conflito obriga os textos a enraizarem-se na retórica do grupo adversário. São obrigados a tomar a fala do adversário e a tentar anulá-la. E, justamente aí, nosso pé pisa a lama fresca da historicidade. Não, claro, no mito que a comunidade usa contra a outra comunidade, mas no fato mesmo de ela usar esse mito contra ela...
Essas contradições são a prova de que os livros não são mera invenção da cabeça de um zé qualquer, mas são fruto de conflitos históricos, reais. Os mitos que esses textos carregam são invenções da cultura, tradição, mas, na prática, serviam de arma retórica, de plataforma de discurso político, de ideário ideológico, de argumento.
Muitas comunidades diferentes, com mitos e tradições diferentes, valores diferentes, credos diferentes, interesses diferentes, escreveram textos em seu contexto de enfrentamento mútuo. Cada texto é a resposta unilateral de uma comunidade ao conflito com outra comunidade. De sorte que em nenhuma hipótese, salvo malabarismos fundamentalistas, trata-se de um discurso, uma fala, uma doutrina, um texto. São várias falas, várias teologias...
Um exemplo só, porque, para quem não quer ouvir, nem mil servem: Nm 12,8 versus João 1,18 revela que ou quem escreveu João não tem a mínima noção da Torá, ou tem, mas está se lixando para ela... Considerando-se que a Torá é citada nos v. 16-17, está claro que é conflito - quem escreveu João 1 está desconsiderando o que a Torá diz, e constituindo ele mesmo sua própria teologia. Se o leitor hoje finge que não vê e inventa de sair dizendo por aí que a Bíblia não tem contradição, só há de desfilar a sua ignorância - inclusive bíblica - pelo mundo.
No fundo a maior virtude histórica da Bíblia é o fato de ela ter-se constituído em conflito - porque o conflito obriga os textos a enraizarem-se na retórica do grupo adversário. São obrigados a tomar a fala do adversário e a tentar anulá-la. E, justamente aí, nosso pé pisa a lama fresca da historicidade. Não, claro, no mito que a comunidade usa contra a outra comunidade, mas no fato mesmo de ela usar esse mito contra ela...
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