segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

(2016/026) Uma senhora fogueira fez Noé...


Vamos nos divertir 10 minutos com coisa séria?

Bem, se você conhece Gênesis, sabe que há duas narrativas da criação: uma, grosso modo, em Gn 1, e outra, também grosso modo, em Gn 2-3. Certo? É evidente que quem montou Gênesis juntou o texto de Gn 1 com o texto de Gn 2-3, e, então, criou o texto de Gn 1-3. Ou seja, ele juntou um texto integral a outo texto integral. Na prática, copiou em um novo rolo maior o rolo de Gn 1, e, depois que acabou de copiar Gn 1, passou, na sequência, a copiar Gn 2-3.

Vamos em frente? Pois é: há duas narrativas de dilúvio também - e não apenas uma. O que hoje está em Gn 6,5-9,18 é o resultado da junção de dois textos de dilúvio. Só que quem juntou fez diferente do que fez com Gn 1 e 2-3. Em vez de copiar uma história do dilúvio e, depois, a outra, ele copiou um pedado de uma, um pedaço da outra, outro pedaço de uma, outro pedaço da outra, e foi entremeando as duas, de sorte que elas estão misturadas, cabeça com cabeça, tronco com tronco, pé com pé... Entende?

Pois bem, agora vem a coisa engraçada. Quanto ao número dos animais que entraram na arca, uma narrativa dizia que foi um casal, mas não fazia nenhuma distinção entre animais puros e impuros. Já a outra, fazia distinção entre animais puros e impuros, e dizia que foram sete casais de animais puros e um casal de animais impuros que entraram na arca... Quando quem juntou as duas narrativas viu isso, ele decidiu escrever um novo verso, resolvendo a contradição - e ele então disse que entraram um casal de animais puros e um casal de animais impuros... Com isso, ele satisfaz as duas narrativas: o número de uma (um casal) e a distinção da outra (animais puros e impuros).

Assim, para a composição redacional, a que passa a valer depois da costura das duas narrativas, entraram na arca um casal de animais puros e impuros...

O redator só esqueceu que, quando termina o dilúvio, Noé queima em sacrifício um exemplar de cada animal puro...

Preciso desenhar?







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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