"Um texto (...) é um mecanismo concebido com a finalidade de fazer com que surjam interpretações".
Leia isso dez vezes...
Quem o escreveu é um dos maiores romancistas do mundo, e um teórico famoso no campo da semiótica: Umberto Eco...
Há quem ache que, lendo um teórico famoso, eu só posso ajoelhar-me, prostrar-me aos pés e chorar de gozos espirituais...
Está perdido comigo. Eu estou imprestável para essas pantomimas e macaquices...
Poucas coisas tão equivocadas foram escritas no mundo.
Poucas.
Essa é digna de estar registrada nos anais dos maiores improcedimentos teóricos do planeta - e seguro-me para não usar palavras que eu uso nas páginas dos livros que leio, e que chocam colegas que me pegam os livros a ler e encontram ali meu coração e alma.
Não é verdade que textos foram concebidos com a finalidade de fazer com que surjam interpretações.
Não, não e não.
Textos foram concebidos como meios de comunicação.
E textos são usados como meios de comunicação.
As interpretações são desdobramentos e risco do processo. Não fazem parte do projeto de textos. Quem escreve textos - salvo quem brinca com eles, o que é legítimo - quer comunicar-se, e se interpretam-no errado ele há de ficar aborrecido. Salvo se não imprimiu no seu texto nenhuma preocupação de ser compreendido, o que não é o caso de uma quantidade de ocorrências que pudesse ser tratada como representativa do fenômeno "escrever textos"...
O fato de que teóricos tenham por objeto as interpretações, as polissemias, os ruídos, não lhes dá o direito de transformar o todo na parte que desejam observar...
Fenômeno corriqueiro esse: o teórico pinta com seu objeto o universo inteiro dos objetos...
É um caso para Freud...
Ou Marx...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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