Eu concordo com Augusto dos Anjos: somos um improvável instante efêmero de carnes que, amanhã, nada mais serão, um instante na "evolução cósmica" e nada mais...
Concordo com isso.
Mas acho que isso não é tudo, porque a despeito de eu saber (sim, eu acho que sei isso) que somos esse instante de um processo impessoal e, quem sabe?, eterno, um elo acidental de uma corrente não-humana e não-consciente, eu sou esse instante, eu sou essa raridade improvável, eu sou essa consciência aqui e agora, a sentir, só eu, o que sinto, a ser, só eu, o que sou.
Não sou, nesse sentido, budista - nem um budista moderno, como dos Anjos. Claro, percebo que eles estão corretos, e o Nirvana nos engolirá a todos, que desapareceremos por completo, sem vestígios - em alguns milhões de anos, talvez, mas, certamente, em alguns bilhões, nenhum vestígio haverá de nós, de nosso planeta e provavelmente nem mesmo de nosso sistema solar. Percebo isso.
Mas não advogo a tese de que é para isso que fomos criados seja lá por que fenômeno. Não há projeto em nós, não há destino, não há norte: há apenas o acidente de ser, a vida, aqui e agora, o eu, essa improbabilidade...
Pois eu me agarro docemente ao eu, sem desespero de ser e sem desespero de não-ser, mas sendo o eu que sou até o dia em que não o for mais.
Há liberdade nisso.
Um sentimento triste, também.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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