quinta-feira, 12 de junho de 2014

(2014/598) Já experimentei religiões...


Já experimentei religião. Sei o que é, do que se trata. 

Já experimentei umbanda, residindo na casa de minha tia, mãe de santo de umbanda bem próxima de candomblé. Vi festas, participei de festas, comi, bebi, vi danças, incorporações, oferendas, sessões, cantei, toquei atabaque, de tudo um pouco. Era adolescente...

Já experimentei espiritismo kardecista como criança e através de minha mãe, médium visual. Histórias ela tem para contar, logo, eu as tenho, que fariam enrubescer um pentecostal metido às coisas espirituais: sabe de nada o vaidoso...

Já experimentei cristianismo, na sua vertente evangélica tradicional. E, nesse caso, como adulto. E por longos anos. De todas as espiritualidades, talvez essa seja a que ainda me marque, por conta de meu trabalho, minha profissão, minhas leituras, minhas pesquisas, minha publicações.

Mas hoje o que eu quero não é mais experimentar a religião. Quero estudá-la, compreendê-la, pesquisar sobre ela. Sejam as mortas e antigas, as vivas e novas, as clássicas, as contemporâneas, as óbvias, as ambíguas, as estruturadas, as fluidas, as que escrevem, as que só falam, as hierárquicas, as anárquicas, todas elas.

Para mim, são todas mitos e ritos experimentados como mais reais do que a própria realidade - para o religioso, naturalmente. E, se para nós não é assim, tanto faz, porque o que quer que o religioso, que vive a vida como se a vida fosse o que seus mitos dizem que é, faça isso tem repercussões sobre a vida de todos, sejam seus filhos, seus vizinhos, seus colegas de trabalho, os cidadãos do bairro, os amigos, os clientes...

A religião está aí. Saiba ou não o religioso - e acho que 99,9% não sabe - que se trata a coisa toda de mito e rito, a religião faz parte da malha da sociedade, para o bem e para o mal. Fugir dela, fingir que ela não está aí e cada fez com mais fome de espaços públicos é relegar à dinâmica política a administração alienada do processo.

É preciso, pois, entrar na arena. Desmistificar o processo. Denunciar o processo. Esclarecer o processo. Nada de mistificações. Ah, lidar com religiosos como se lidasse com crianças com distúrbios de entendimento: quantos melindres, quanta Mise-en-scène, quantas palavras sopesadas para não "melindrar" e "ofender"... Ah, senhores, menos, por favor...

A única forma de a religião ter algum direito de estar em praça pública é sua aceitação radical do jogo social, dos valores sociais e das normas sociais. E isso se dá por meio do esclarecimento da religião e do religioso - e, sim, em bases científico-humanistas, que outras não há! -, de sua educação e de seu compromisso público pelo respeito a todos e todas, religiosos ou não.










OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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