Corrigida a alteração proposital que o escriba judeu fez em Deuteronômio 32,8-9, está-se ali com uma declaração interessante: Judá, em algum momento de sua história, passou do politeísmo polilátrico (crença em vários deuses e culto a vários deuses) para o politeísmo monolátrico (crença em vários deuses mas culto a apenas um [também chamado de henoteísmo]) - os v. 8-9 são expressão claríssima de politeísmo monolátrico.
A data é discutível, mas, para mim, não foi antes do século V que Judá tornou-se (por força de seus sacerdotes), henoteísta. Há, todavia, quem prefira pensar no século IX ou VIII, pensando na atividade profética. Não apostaria nisso.
Lendo Miqueias 4, percebe-se uma nítida diferença de estilo redacional, vocabulário, temática, perspectiva teológica - tudo muito diferente dos capítulos 1 a 3 (excetuando-se 1,7, que apostaria tratar-se de interpolação tardia). Lendo Mi 4, já o v. 2 inspira pensar-se em texto posterior ao século VIII, o século do profeta Miqueias. Quando me deparo com Miquéias 4,5, vejo mais um exemplo claro de henoteísmo (politeísmo monolátrico): cada povo tem o seu deus, mas "nós andaremos" com Yahweh.
Dt 32,8-9 e Mi 4,5 são, a meu ver, textos pós-exílicos e representantes belíssimos da fase henoteísta de Judá.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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