quarta-feira, 30 de abril de 2014

(2014/380) Cuidar livrar-se da mitologia, e ela entrar pela portas dos fundos


Só passando para dizer que o esclarecimento histórico da civilização ocidental levou-a a compreender o estatuto mitológico da religião. Assim, quanto mais esclarecido, mais constrangido o indivíduo fica com o cabedal de mitos e fantasias transformados em doutrinas e filosofia cristã - mitologia em pacotes racionalizados...

Para quem se esclareceu, superou-se essa condição mitológica da fé...

Mas permaneceu uma armadilha onde mesmo esclarecidos atolaram e lá permanecem: o outro fio da religião, além da metafísica mitológica, era - e é - a metafísica ética. Há quem ainda acredite, enganando-se, que a religião tem um função ética e moral, que, sem ela, sem os deuses, dissolve-se a plataforma moral e ética...

É falso isso. Totalmente falso. 

Mas é aí, ainda, que se agarram os esclarecidos nostálgicos para argumentarem quanto à manutenção da religião como sistema civilizatório...

Aí, fazem as suas perorações públicas.

Quando, todavia, têm de tratar da relação concreta, fora da emoção e do desejo, mas diante da realidade, entre a religião e o jogo democrático, percebem como a religião é inapta e como está eivada de má vontade pública quanto ao jogo plural, democrático, republicano e laico, marcada por uma "ética" e uma "moral" de gueto, pervertida e sem um mínimo de alteridade dialogal.

Enganem-se os esclarecidos...

... porque desejam?








OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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