
Não me submeto à autoridades acadêmicas, quaisquer que sejam. Submeto-me a argumentos. Assim, ainda que minha teoria tenha sido tratada como absurda, para mim permanece como plenamente plausível - e tanto que os judeus, colocados ao lado de João, o batista, nesse mesmo capítulo 1, estão presentes no horizonte de produção da narrativa - aceita-se como fato que a comunidade joanina tenha se constituído a partir da expulsão da sinagoga!
Escrevi artigos sobre João 1, desde então. Não é minha área de interesse direto. Mas a ideia não me sai da cabeça.
Na graduação, em 1989 e 1990, um professor de História da Igreja dizia-nos que havia uma igreja de João batista no Iraque. Não, não era uma igreja cristã, que adora Jesus, mas dedicada a João Batista. Não, era uma igreja de cristãos de São João, que tinhas João, o batista como messias, não Jesus. Ou seja, cristãos, têm Jesus, cristãos de São João, João, o batista, e muçulmanos, Mohamed.
Para mim, de alguma forma, o que se indica no personagem João, o batista, em João 1 deve ter alguma ligação com esses cristãos de São João. Tenho investigado o tema, nas horas vagas.
Acabo de adquirir dois livros - um deles, caríssimo, U$ 0,79, sobre Mandaísmo, uma tradição religiosa que, no século XVI, foi descrita, por missionários carmelitas descalços como "cristãos de São João", em Basra, no Iraque. Vou aprofundar as leituras e escrevei um artigo "absurdo".
Penso que a comunidade joanina, em alguma parte de seu desenvolvimento histórico, enfrentou, ao mesmo tempo, dois adversários: judeus da sinagoga e "cristãos de São João", discípulos da tradição de João, o batista, que o tinham como messias, e não Jesus.
Para mim, essa comunidade esquecida e tratada como mera memória antiga, é a chave para a criatividade da comunidade joanina - eles diziam que João, o batista, era o verdadeiro messias, porque era mais velho do que Jesus. Para rebater a essa crítica, para mim a raiz do Evangelho de João e a chave da Cristologia alta, roubaram da sinagoga a doutrina centenária do Verbo Encarnado - a Torá, aplicaram-na a Jesus, fazendo-o um ser desde sempre celeste e, por isso, mais velho do que João, o batista...
A resposta fez sucesso e é repetida até hoje pelo Ocidente, que desconhece a sua origem.
Mas a comunidade do batista riu-se dos ladrões e permaneceu em sua crença original. Carmelitas descalços encontraram-nos bem, obrigado, mil e seiscentos anos depois, no Iraque, onde, hoje, ainda são, parece, um grupo entre cinco e sete mil pessoas - um fóssil vivo.
Se eu não estava certo, acho que fui tão criativo quanto a comunidade joanina - e sem roubar a ideia de ninguém...
Ma ainda acho que minha "absurda" leitura faz todo sentido...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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