Compreendo a efervescência da presença e da participação do "povo" nas instâncias de poder e decisão da Igreja Católica. O que para o Protestantismo é coisa comum, para um católico é utopia. Logo, compreendo que a ansiedade pelas soluções dos problemas percebidos pelos líderes - é disso que se trata - populares concentre-se nessa margem do rio...
Todavia, pergunto-me se essa utopia não pode vir a desmontar, finalmente, a Igreja. O Protestantismo o fez. Trento fechou os muros da Igreja e o Catolicismo sobreviveu à fragmentação protestante - até agora. E isso justamente pela clericalização e pela ênfase - a qualquer preço - da "unidade".
Pergunto-me se o povo chegar às instâncias de poder não ocorrerá o mesmo fenômeno que ocorreu no Protestantismo - bocas sagradas demais, profetas demais, oráculos demais, para pouco templo, de modo que a Igreja comece a rachar.
Se não há uma instância que coíba as vozes alternativas de Deus - e são sempre vozes de Deus! -, Deus se volta contra si mesmo. Na prática, um líder popular aqui se levanta, outro ali, mais outro, cem, mil, dez mil Luteros, a Igreja senta para negociar, não abre mão, racha-se, fragmenta-se...
Não estou discutindo se é bom, se é mau: estou apenas dizendo que eu acho que a Igreja pode fragmentar-se, quando o povo chegar ao poder. Porque há uma mistificação do povo, como se o povo fosse bom, e Deus estivesse nele, e a Instituição fosse o diabo. No Protestantismo, é sempre o povo que começa, e é sempre em clero que esse povo se transforma, até a próxima divisão.
Lamentavelmente, a prática religiosa cristã é a do oráculo: cada um, se pode, se diz porta-voz de Deus. O líder popular vai transformar-se em voz de Deus, em clero, e vai repetir aquela ousadia luterana de pôr-se contra aquele que se dizia vigário de Deus...
Não sei se comemoraremos os 500 anos da Reforma, em 2017, com uma Igreja Católica ruindo e fragmentando-se em milhares de pedaços - mas não me surpreenderia se estivéssemos próximos de uma segunda Reforma - dessa vez, cacos de vidro espatifando-se, todos, ao mesmo tempo... Sempre, para maior glória de Deus...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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