sábado, 15 de junho de 2013

(2013/599) Sobre (as) manifestações e nós - sobre a retórica e a investigação posterior dos fatos


Eu duvido que haja uma - ênfase nesse numeral: "uma" causa, una e única, para as manifestações de São Paulo.

Retoricamente, os vinte centavos podem ter sido o slogan dos primeiros movimentos, antes que a coisa inteira se transformasse, ecologicamente.

Todavia, mesmo nesses primeiros momentos, as razões são plurais - há os dos vinte centavos, mas há outras, políticas, culturais, cada um carregando-a em seus pés.

O movimento, então, sai do controle. Hoje, quem pode afirmar em nome de que ele se faz? Parte dele é reação a ele mesmo e à reação que ele sofreu. Outra parte, já é efeito manada. Outra, um acréscimo de revolução juvenil. Outra, senso de oportunidade. Outra, baderna. Outra, solidariedade. Não há, agora ainda mais, uma causa nas ruas - há várias. Da consciência pessoal à manipulação direta.

O caso de São Paulo é delicado. Os atores estão fazendo contas.

Trata-se, em primeiro plano, do preço de passagens do transporte púbico. A cara do problema é municipal. Mas a polícia é estadual. E o governo local é o mesmo que o federal - o PT.

A mídia tem na mão um pepino. Se ataca a polícia, que bateu nos seus, ataca o PSDB. Ela tem de atacar o "movimento", porque, assim, ataca o PT - e, por tabela, a Dilma. Está no aquário, agora, esperando as ordens de cima...

No facebook, a idiotização retórica carrega na tinta: imagens da Dilma, vinculando-a aos eventos, passam de perfil a perfil. O Governo Federal não tem nenhuma ligação com o caso - mas eu não duvido que as forças midiáticas estejam, nesse momento, pensando em ampliar a retórica para "o Brasil cheio de mazelas", saindo da questão imediata do transporte municipal e intermunicipal.

Afinal, aí vem 2014.

Nossa época é marcada pela retórica das imagens, pela retórica dos eventos. Não é mais o que ocorreu: é o que se venderá sobre o que ocorreu.

Por isso, o trabalho investigativo é fundamental para desmontar, amanhã, o que se vai dizer entre hoje e aquele dia. É impossível sabermos, hoje, o que de fato está ocorrendo - só amanhã, depois que os miriápodes revolverem as folhas sob o chão da floresta. Mas, aí, então, toda a manipulação política já se terá dado...

Por isso, é fundamental mantermo-nos alertas. Em qualquer situação, qualquer, a síndrome de manada, a síndrome da repetição automática dos discursos, a hipnose, o êxtase, a catarse é inimiga direta da lucidez.

E, de qualquer forma, está nele e sairá dele um país dividido - entre os que aprovam e os que reprovam as manifestações, cada um podendo escolher um leque de diferentes razões para estar do mesmo lado da bilateral questão política.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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