sexta-feira, 15 de março de 2013

(2013/248) A fé cristã é persa, grega e judaica, nessa ordem


1. Sou um leitor do Antigo Testamento, em vias de me tornar um especialista - ainda me faltam alguns anos de estudo para me apresentar como tal, mais ainda, para de fato o ser. O que tenho de bagagem me permite dizer, sem medo de errar (mas não ter medo não é a garantia de não estar errado), que a fé cristã, isto é, o conjunto de crenças comuns ao Cristianismo planetário é 70% persa, 20% grego e 10% judaico.

2. A declaração causará surpresa e polêmica? Não me espantaria - o Cristianismo se diz baseado no Antigo Testamento - e o Antigo Testamento é um livro 100% judeu!

3. Bem, sim, o AT é um livro 100% judeu - todavia, o Cristianismo não o lê como ele é - e, a despeito de dizer-se baseado nele, não, não está muito baseado nele, não - salvo, naturalmente, numa doutrina muito específica: a desgraçada necessidade de sangue para que o homem seja perdoado (economia que faz da palavra "perdão" uma ironia - para dizer pouco).

4. Grande parte da doutrina do AT é pré-exílica, pré-persa e, nesse sentido, não corresponde à teologia cristã - por exemplo, não há demônios no AT, e o Cristianismo é muito mais uma religião de demônios do que outra coisa - no NT há mais demônios do que anjos!

5. Os textos pós-exílicos do AT são carregados, já, de influências persas e, mais tarde, gregas. E, de qualquer forma, o NT é um mundo persa - dualismo, céu, inferno, demônios, Juízo, fim do mundo, nada disso é judaico, nada!, tudo, absolutamente tudo, persa...

6. Como os magos que anunciam, desde o Avesta, o nascimento do Todo-Poderoso...

7. Uma citação que acabo de ler parece concordar comigo, e a tese de doutorado que o anuncia trata-a com quem está diante da máxima autoridade possível no assunto:

The encounter with Iranian religion produced the necessary stimulus for the full development o f ideas that were slowly under way within Judaism. The personification o f evil in the form o f figures like Satan, Belial, or the Devil, the increasing importance o f the dual opposition between Good and Evil as well as their eschatological confrontation are ideas that are unlikely to have emerged without external influence (Hultgard, in Mitra Ara, Eschatology: The Genesis and Transformation o f a Doctrine in the Indo-Iranian Traditions, p. 7).
8. Não me baseio na citação - considero apenas que ela corrobore o que venho elaborando em minhas leituras há anos. E, pelo que eu mesmo percebo, ela, então, está correta.

(...)

9. Uma curiosidade - gostamos de pensar em nossas origens como assetadas em Israel e na Grécia. Israel é santo e a Grécia é sábia - é nosso mito fundante, nossa self deception...

10. Mas nascemo, mesmo, na África (paleontologia) e no Irã (noologia) - talvez o nosso esforço de amnésia seja tão grande que isso explicaria como tratamos, hoje, esses dois mundos: quem sabe, para que não saiba o mundo que somes africanos e iranianos, todos nós, greco-judaicos?...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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