Não penso a graça a partir do pecado original, doutrina que considero abominável - o sucesso inesperado e cruel de um mito judaico criado por judeus e para judeus, transformado em máxima de controle social e, hoje, neurose obsessiva para a manutenção do narcisismo delinquente da fé...
Não, não penso a graça tendo como pano de fundo a demência sacerdotal de Jerusalém.
Penso a graça apenas como o diapasão a partir do qual toda a vida humana soa.
Nenhum de nós é melhor do que ninguém. Cada um de nós sabe de seus demônios pessoais. Cada um de nós carrega seus diabos - seja na carne, seja na alma.
Quando vejo religiosos grasnarem sua hipocrisia sobre os outros, sinto-me ofendido na alma. Quando é a um ser humano que ferem, é a mim, igualmente que ferem.
Somos todos inapelavelmente iguais.
Não somos santos - mas isso não é o resultado de uma queda: isso é o que somos, potencialmente.
A graça é nada mais nada menos do que a concessão aos outros das condescendências que concedemos a nós mesmos.
E se há algo que nós pisamos na lama é a graça.
A hipocrisia evangélica só não é maior do que a sua arrogância e empáfia diante do mundo.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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