Sinto-me envelhecer. Há um cheiro de cedro à minha volta. O outono se faz presente. Ficamos mais corajosos, então, e podemos dizer coisas que os jovens não pode, pois devem mentir para si por algum tempo, ainda...
Não acho que haja vida após a morte. Nesse ponto, acho que a tradição bíblica mais lúcida é a sabedoria de um Qohelet. Mas nem ele sabe - ela apenas acha, apenas imagina, pensa antecipar o que não sabemos...
Ele, os papas, os pastores, os autores bíblicos, eu, todos nós, cada um a seu tempo e modo, antecipamos o futuro e criamos uma vida hoje à luz dele.
Estou absolutamente tranquilo - o que me aguardar, lá e então, serenamente, receberei, se a única alternativa for receber serenamente...
Agora, se não, se de fato há vida após a morte, como desejam e pregam todas as religiões, se lá estaremos, de pé, todos nós, preparemo-nos para nos confrontar com todos os nossos contos de fada guardados como fé...
Lá estarão os anjos e os demônios humanos. Nos encararemos por um longo tempo, bons e maus, santos e pecadores, papas e assassinos, estupradores e crianças de seis anos - nos encararemos sem, mais uma vez, resposta alguma...
A vida, definitivamente, não é um filme de cinema, em que se sofre por uma hora e cinquenta e quatro minutos e resolve-se a coisa toda em vinte segundos.
A vida é todo o drama dela.
Inventamos as perguntas, inventamos as respostas - e elas não servirão para nada, quando precisarmos delas.
Por isso, é aqui que devemos nos preparar para nosso destino inapelável.
Não nos criamos a nós mesmos, não criamos nosso futuro e destino - e, quando ele chegar, não haverá nada que possamos fazer para diminuir a tragédia de estar vivo.
Os mitos religiosos são todos a tentativa de fazer desaparecer de nós essa consciência de gelo.
Mas eu lhes digo: viver é todo o sentido que há. E, se não sois capazes de compreender isso, não há como lutar contra os mitos.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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