1. Alguém me diz que até quer "libertar" as pessoas, que tem consciência do jogo de manipulação em que a religião está operando, mas, ele ainda me diz, quando vai até as pessoas e, democraticamente, as ouve, elas querem o que sempre tiveram...
2. Não duvido...
3. Por isso a tarefa de transformação da sociedade e da religião é mais grave do que à primeira vista parece.
4. Fiquemos na questão religiosa: as pessoas estão enfiadas em um processo no qual, por milênios, se joga de um modo, por século, de um jeito, por décadas, de uma maneira - elas são fruto de milênios, séculos e décadas de imersão em um ambiente onde as coisas são como são por força de Deus...
5. E você quer, em um culto, mudar tudo?
6. O que entra em jogo?
7. Pessoas em estado de heteronomia sabem, com efeito, o destino que merecem? São, digamos, democraticamente capazes? Não é necessário, primeiro, levá-las até o ponto de auto-conhecimento, de conhecimento do jogo social, de conhecimento do jogo histórico, de conhecimento do jogo político, ou seja, não é preciso passar essas pessoas por Demerval Saviani - dar acesso a elas à tecnologia da classe que as domina?
8. Se elas estão infantilizadas, presas em um mundo mitológico, como podem operar uma transformação que as leve paras fora dessa situação? Impossível! Só despertamentos individuais ocorrerão - o que resultará no afastamento dessa pessoa da comunidade, por absoluta incompatibilidade de jogos.
9. Logo, é fácil formar pastores para o mercado. Difícil é imaginar-se que tipo de religioso é preciso para, desde dentro do sistema, explodir inteiramente com ele, dando à luz a um modelo completamente diferente...
10. Um dos últimos de que ouvi falar foi assassinado.
11. Chamavam-no de Jesus.
12. E não se enganem: os modelos para os quais trabalhamos não tem nada a ver com o modelo dele - seja lá qual imagem dele tomarmos nos Evangelhos. Nas cartas paulinas, vá lá: Paulo é mesmo filho do judaísmo tradicional/globalizado, precursor de nossos evangelistas mundiais. Mas o Cristo da tradição pascoal, seus modelos de tratar Deus como "paizinho", de trancar-se no quarto - e não no Templo ou na sinagoga - para falar com ele, de romper com o sábado e por-se acima dele... Não, não mesmo.
13. Logo, estamos numa situação bastante difícil.
14. Não sei se é possível reformar o sistema...
15. Tampouco sei se um novo sistema poderia levar-nos a novas formas de comunidade... Mas uma coisa sei: faça um questionário em sua comunidade, e a aprovação será enorme...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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