Sobre negros e gospel, ainda...
No Brasil, os negros puderam manter atabaques, culto, tradições. Um caldo miscigenado e sincrético de tradições tribais converteu-se em nosso Candomblé (que, sob a forma de sincretismo africano-escravo, é uma religião brasileira!).
Nos Estados Unidos, não se permitiu o uso de atabaques nem a manutenção das tradições. Com raras exceções - e ainda assim, provavelmente, re-introduzidas pela "invasão" latina - não houve a manutenção de religiões ou religiosidades africanas. O gospel tomou tudo...
(Stella Junia Ribeiro, como vê, não esqueci até hoje sua palestra).
Esse fato responde diretamente pelo padrão de tratamento que os pretos tiveram dos católicos, no Brasil e dos protestantes-evangélicos nos Estados Unidos. Os católicos findaram por permitir certo grau de liberdade na alma africana. Os evangélicos, não - arrancaram tudo de lá, tudo, não ficou nada.
A prova disso é que, quando chegaram aqui, para evangelizar o Brasil, na virada do XIX para o XX, fizeram a mesma coisa - arrancam a alma do "evangelizado" e põem lá outra coisa, uma caricatura de sua cultura...
É curioso perceber a reação dos pretos estadunidenses, sua revanche contra a desalmanização que sofreram... Pouco a pouco, vão recusando o movimento gospel em nome de outra religião que vem da África - o Islã...
É uma vingança irônica, porque a religião que usam par vingar-se dos cristãos é aquela que, enquanto eles estavam aqui, escravos, invadia sua terra e fazia lá, nesse campo das ideias, a mesma coisa - arrancar a alma ancestral e pôr lá uma paródia de Abraão.
Quando alguém fora do planeta ler nossa história, julgará que se trata de um romance surrealista...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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