domingo, 10 de fevereiro de 2013

(2013/099) Teologia e exegese - de um rompimento histórico

Se há algo que caracteriza uma sociedade esotérica é que a "verdade" é ensinada de forma platônica e remonta a uma origem revelada. O neófito deve aprender dos irmãos maiores. É o modelo platônico.

A Teologia é esotérica, ainda que os teólogos falem mal do esoterismo. É esotérica, ainda que a comunidade se pretenda o mundo, e quem não aceita, tá fora...

A prova disso é que a Teologia se traduz em um dogma inicial revelado e todos os desdobramentos racionalizados.

Não importa se falamos de catolicismo, protestantismo, dos neo-gospels, de budismo, de hinduísmo - são, todas, estruturas esotéricas de catequese.

No século XVIII, depois de uma série de enfrentamentos, exegese e teologia se separaram. Não há diálogo possível. 

No campo da exegese, é verdade que a fé ainda se manteve armada - e a teologia bíblica, que deveria ser exegética, converte-se em teologia sistemática disfarçada (há livros de teologia bíblica de editoras sob controle eclesiástico que encontram a Trindade em Gênesis!).

No campo contra-dogmático, com todas as suas insuficiências e seus problemas de método, uma coisa estava certa: teologia bíblica do AT ou era história da religião daqueles povos, ou era teologia disfarçada...

Para entender-me, deve-se conhecer essa história. A alternativa é cair de juízos de valor, que reprovamos em sermões encomendados. Sou filho de uma corrente do protestantismo - aquela que nasce com a retórica das Escrituras (retórica!), enfrenta o problema das leituras múltiplas das denominações - esse escárnio protestante! -, arma-se das ferramentas histórico-críticas e decide-se por compreender, com seriedade, o que aqueles velhos papeis quiseram dizer um dia.

Por isso, não me interessa a teologia de igreja. Ela não entende nada daqueles velhos papéis. Nem de teologia mesmo ela entende - nada. É rasa, rala, ruim, pobre, parca, pouca.

Acho que se eu vivesse nos dias áureos da teologia, quando os teólogos eram eruditos, ficaria em dúvida sobre minha decisão. Hoje, todavia, é fácil olhar no espelho e admitir que não havia outro caminho a seguir - Bíblia, crítica e história. 

A alternativa é ruim demais.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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