sexta-feira, 23 de novembro de 2012

(2012/797) Para dialogar de verdade

1. É impressionante. O sujeito não consegue sair da posição ideológica de fundo em que está situado. Não sei se ele não se dá conta ou se se dá conta mas não sai porque não quer...

2. A maturidade epistemológica não é o relativismo, essa baboseira que inventaram para brecar o desenvolvimento da crítica materialista e racionalista que sustentou o advento dos direitos humanos e a democracia (cf. Losurdo).

3. A maturidade é o reconhecimento de que as nossas opiniões e nossos discursos funcionam encaixados em um eixo ideológico e só fazem sentido nele.

4. Você, então, reconhece isso - e não tem como se livrar disso: relativismo não existe: você sempre, absolutamente sempre estará girando em torno de um eixo - o que pode ocorrer é que o eixo pode ser mais ou menos elástico, mas, ainda assim, ele é seu eixo.

5. Na prática, a maturidade permite que você compreenda que, assim como o outro fala a partir do eixo dele, você fala a partir do seu.

6. Sim, você pode sair metodologicamente de seu próprio eixo, ver-se em seu próprio eixo e analisar-se, desde fora dele, na condição daquele sujeito/você-mesmo/outro que pensa assim e assado porque se situada no eixo em que está...

7. Você se vê como um outro, e entende sua posição ideológica. 

8. Isso é maturidade.

9. Eu fico surpreso com o fato de que gente que se diz progressista, inteligente, que estuda, faz pós, mestrado, doutorado, não consiga operar esse campo antropológico.

10. Das duas uma: ou considera que sua posição é "absoluta" e "isenta", situada entre posições ideológicas de terceiros, ou descamba para um relativismo retórico que oculta sua própria ideologia.

11. Há um ponto médio em que anulamos dialogalmente ambas ideologias, meta-teoricamente, e compreendemo-nos mutuamente como homens ou mulheres situados em eixos ideológicos. Só depois de calibrada essa percepção, só depois de universalizada essa consciência, se pode dialogar de fato: antes disso, é fraude, fingimento, engano, apologia de gaveta, evangelização de elite, conversa mole...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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