sexta-feira, 17 de agosto de 2012

(2012/634) Infelix ego homo


1. Miseravelmente protestante, miseravelmente cristão, tendo a concordar com Paulo, quando ele, retoricamente, declara: "miserável homem que eu sou"...

2. Todavia, não me inclino a perseguir seu raciocínio e a crer que se pode deixar de pronunciar a frase, interrompê-la, pelo fato de uma fé que dessa condição nos tirasse...

3. O cristão me considerará blasfemo - mas o que não é blasfemo para o cristão que não seja a sua imagem? Todavia, penso que a História da Igreja, a história dos cristãos, a história de cada cristão confirma que só podemos assumir a primeira parte da constatação teológica - somos, todos, homens miseráveis. Assumir a segunda serve, apenas, para separar, retoricamente, "nós" e "eles"...

4. Não, não há como deixar de sermos esses homens miseráveis que somos.

5. E não há saída - porque o homem que somos é isso que somos, e desejar outra coisa para que assim não mais sejamos é desejar, no fundo, que não sejamos, mais, homens, como se anjos houvesse e que pudéssemos chegar a eles, a ser um deles...

6. Mas, ó, miséria das misérias, não inventamos de dizer que foi juto com um deles que chegamos a ser os miseráveis que somos?

7. Não vemos, ó, miséria, as voltas que damos para nos encontrarmos, sempre, diante de nós mesmos?

8. Paulo não suportou olhar no espelho.

9. Além de tendas, fabricava véus...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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