1. Quanto à questão sobre quem determina o que - se é o meio que faz o homem ou o homem que faz o meio, assumo uma posição complexa: um se faz por intermédio do outro, podendo haver sobreposições históricas de um sobre o outro, mas sem determinismos absolutos. O mesmo meio pode ver nascer diferentes sujeitos, e sujeitos iguais podem nascer de diferentes ambientes. Não há regras: salvo essa - há uma relação histórica e local, ou, cada caso é um caso.
2. Vale o mesmo para a superestrutura normativa da fé. Ela pode sobredeterminar a caminhada das pessoas, e as pessoas podem sobredeterminar-se a ela. Um, submete-se, outro, não.
3. Mais: uma pessoa pode submeter-se à fé até aqui, mas, nesse e naquele ponto, pode, simplesmente, infringir as regras.
4. No fundo, os crentes são assim. Submetem-se a "Deus" de modo retórico. Em alguns pontos, submetem-se, sim. Noutros, dão seu "jeitinho".
5. A questão que me vem à mente, aqui, é: por que dão um jeitinho em alguns pontos, mas não infringem inteiramente o sistema? O que faz com que sejam seletivos os sujeitos religiosos, fieis, aqui, infiéis, ali?
6. Ainda mais: falando hoje cedo sobre a força que a máxima neotestamentária - sem derramamento de sangue não há remissão de pecados - deixou na História da Igreja (com literalmente sangue derramado aos borbotões), uma aluna reagiu dizendo que é porque interpretaram a máxima de modo errado...
7. Eu argumentei que esse tipo de resposta construía uma imagem "deles" como "maus" e uma imagem "nossa" como bons. Nós, bons, eles, maus, e isso explica porque eles fizeram (tudo) errado, mas nós fazemos tudo certo...
8. Escondem-se aí, de um lado, uma arrogância teológica, e, de outro, uma armadilha. A armadilha é: o sistema disfarça-se em necessariamente bom, e todo o erro da História se faz recair na estupidez de pessoas...
9. Sendo o sistema bom, e sendo nós bons, só a perfeição nos espera...
10. Mas é equivocada a leitura das coisas nesses termos.
11. O sistema é potencialmente mau e, mais cedo ou mais tarde, a máxima será levada às literais conseqüências, e sangue será derramado.
12. Quando? Onde?
13. Quando e onde o sistema sobredeterminar-se à crítica do sistema.
14. O Sistema não precisa ganhar, nem ganha todas.
15. Mas ganhará sempre que os sujeitos esconderem de si a força e a maldade intrínseca do sistema, sempre que nos cuidarmos bons e, assim abrirmos a guarda...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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