domingo, 22 de abril de 2012

(2012/404) Populus, meu cão - que surpresa: não é exatamente um cão

1. Quando eu era pequeno, minha mãe ouvia e cantava muito Belchior. Devo confessar que meu amor a Belchior é uma transferência psicológica - o amor de minha mãe por Belchior traduz-se em meu amor pelo Belchior como amor não suficientemente exaurido do amor de minha a minha mãe... Não é difícil entender isso, vai, é só esforçar-se um bocadinho.

2. Pois bem, na infância, minha mãe cantava uma música de Belchior que há mais de 30 anos eu não ouvia. 30 anos! Já a havia procurado na web, mas não a encontrara. Hoje, agora, nesse minuto, fui ao Oráculo e a encontrei: Populus...

3. Se me perguntassem antes de ler a letra que fala de Populus, meu cão, eu responderia, desde a infância, tratar-se de um cão. Mas, agora, lendo a letra, vi que não tem nada a ver com um cão - é uma metáfora para o povo. Povo, Populus, cão... Zé Ramalho falara de gado...



Populus
Belchior


Populus, meu cão...
O escravo, indiferente, que trabalha
e, por presente, tem migalhas sobre o chão.
Populus, meu cão.

Primeiro, foi seu pai,
segundo, seu irmão;
terceiro, agora, é ele... agora é ele,
de geração, em geração, em geração.

No congresso do medo internacional
ouvi o segredo do enredo final
sobre Populus, meu cão:
documento oficial, em
testamento especial,
sobre a morte, sem razão
de Populus, meu cão.

Populus, Populus, Populus, meu chão.
Delírios sanguíneos
espumas nos teus lábios...
Tudo em vão.

Tenho medo de Populus, meu cão,
roto no esgoto do porão.
Seu olhar de quase gente,
as fileiras dos seus dentes...
Trago o rosto marcado
e eles me conhecerão, me conhecerão.

Populus, Populus, Populus, meu cão





OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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