terça-feira, 20 de março de 2012

(2012/314) A verdade é um discurso?

1. Alguém contou que, durante a Segunda Guerra Mundial, um hidroavião estadunidense, escondido entre as nuvens, avistou um submarino alemão em algum ponto da costa brasileira, na altura de Santa Catarina. Lançou, então, seis bombas sobre ele e o afundou. Morreram 46 homens. Sobreviveram seis.

2. Há muito romance sobre a Segunda Guerra. Aliás, há muito romance. Saramago tem um, no qual Portugal se solta da Europa e fica boiando pelo Atlântico, verdadeira jangada de pedra. 

3. O que de comum há nas duas histórias é que são narrativas. São enredos que você pode "contar", narrar, para alguém, que os poderá, por sua vez, igualmente narrar e contar.

4. Mas há algo de muito diferente entre as duas narrativas. Não há hipótese de você encontrar Portugal encalhado nas Cagarras. Todavia, o submarino acaba de ser localizado e filmado, a 130 metros de profundidade e 35 quilômetros de Florianópolis.

5. A verdade não é um discurso. Ela pode ser capturada na forma de um discurso, que, todavia, continua, para ser válida a sua condição de verdade, a estar inexoravelmente ligado ao objeto a que se refere. A história do avião é verdade, ocorreu - lá está o submarino a provar, e o teria sido, mesmo se ainda não se tivesse encontrado: nesse caso, só não teríamos a prova.

6. Já A Jangada de Pedra só é real enquanto obra magnífica de Saramago e só é verdadeiro o prazer que ela proporciona à leitura.

7. A tese de ser a verdade um discurso é isso - um discurso. Nada mais do que um discurso. Você não vai querer objetividade nela, vai?







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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