
2. Há muito romance sobre a Segunda Guerra. Aliás, há muito romance. Saramago tem um, no qual Portugal se solta da Europa e fica boiando pelo Atlântico, verdadeira jangada de pedra.
3. O que de comum há nas duas histórias é que são narrativas. São enredos que você pode "contar", narrar, para alguém, que os poderá, por sua vez, igualmente narrar e contar.
4. Mas há algo de muito diferente entre as duas narrativas. Não há hipótese de você encontrar Portugal encalhado nas Cagarras. Todavia, o submarino acaba de ser localizado e filmado, a 130 metros de profundidade e 35 quilômetros de Florianópolis.
5. A verdade não é um discurso. Ela pode ser capturada na forma de um discurso, que, todavia, continua, para ser válida a sua condição de verdade, a estar inexoravelmente ligado ao objeto a que se refere. A história do avião é verdade, ocorreu - lá está o submarino a provar, e o teria sido, mesmo se ainda não se tivesse encontrado: nesse caso, só não teríamos a prova.
6. Já A Jangada de Pedra só é real enquanto obra magnífica de Saramago e só é verdadeiro o prazer que ela proporciona à leitura.
7. A tese de ser a verdade um discurso é isso - um discurso. Nada mais do que um discurso. Você não vai querer objetividade nela, vai?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário