domingo, 18 de março de 2012

(2012/309) A Batalha de Deus - Universal, digo, Rede Record versus Igreja Mundial do Poder de Deus, do "apóstolo"

1. A IURD, quer dizer, a Rede Record está em campanha aberta contra a Igreja Mundial do Poder de Deus, do "apóstolo" Valdemiro Santiago. Uma reportagem de quase meia hora sobre as fazendas milionárias do apóstolo em Mato Grosso foi transmitida agora há pouco, em horário nobre, do Domingo Espetacular.

2. A operação denunciada é mais ou menos assim: o "apóstolo" Valdemiro Santiago, em nome da W. S. Music, empresa da qual é dono, compra fazendas gigantescas em Mato Grosso (duas vezes o tamanho de Jerusalém) em seu nome, e paga com recursos da IMPD, da qual é presidente - a Record mostrou os documentos do registro cartorial.

3. Somando as terras, o gado (5.000 cabeças) e as benfeitorias, o valor chega a 50 milhões de reais.

4. Eu não estou seguro de que seja apenas dinheiro da Igreja. Eu não duvidaria de que haja algo mais. A reportagem fala de tráfico de armas. Não serei leviano de acatar sem mais nem menos a possibilidade. Não sei se a Justiça vai atrás - se for, quem sabe fique tudo claro mais à frente. Eu só sinto que a "doação de fiéis" é um modo muito fácil de "lavar dinheiro". Será o caso? Mas, se for, será somente na IMPD que isso ocorre? A Polícia Federal é quem deve descobrir.


5. Minha opinião sobre o assunto, em termos restritos (IURD [Record-me-engana-que-eu-gosto] versus IMPD): roto a falar de esfarrapado. Uma concessão sendo utilizada pela IURD para atacar seu maior concorrente. Isso nada tem a ver, naturalmente, com o mérito das denúncias - mas não sejamos bobos. Se estivessem "de bem", a Record ficaria calada, como calada ficará a Globo a respeito da mansão de seus donos em Paraty. O bispo da Universal diz que é o diabo que prega e cura na igreja do concorrente e, agora, prego no caixão, a Record faz o serviço "limpo". Dobradinha decidia em reunião de pauta, não duvido.

6. O caso, todavia, vai além da relação IURD IMPD. Trata-se de uma questão que diz respeito, na minha avaliação, aos rumos da relação entre religião e sociedade no Brasil. No que diz respeito à religião em si, portanto, e com o objetivo de coibir parte das práticas reprováveis da "fé", eu tomaria a seguinte decisão:

a) todas as religiões passam a pagar todos os impostos e perdem imediatamente toda e qualquer isenção fiscal: só alcançariam isenção fiscal aquelas que provassem benefícios para a comunidade (que não fosse o múnus pastoral, mas creches, escola e ações sociais fiscalizadas), isto é, serviço à sociedade, e não aos membros da religião apenas.

b) ficaria terminantemente proibido pedir dinheiro aos fiéis, com exceção de membros cadastrados e com carnês de contribuição contabilizado e fiscalizado.

c) ficaria terminantemente proibido o uso da TV, rádio ou Internet para pedir oferta ou contribuição de qualquer natureza. E, nesse caso, nem mesmo para o membros da igreja "local".

d) fica terminantemente proibido "abrir" igreja no modo "eu sou o dono". Toda e qualquer religião passaria a ser obrigada a contratar, pelas regras da CLT, e com cláusulas trabalhistas específicas, seus pastores e demais funcionários. Novas comunidades somente poderiam ser abertas pela própria comunidade que, depois de constituída, contrataria profissional da fé registrado em CLT. Naturalmente que aí não se contam as reuniões informais, os grupos de discussão informais e até as experiências comunitárias de caráter religioso.

e) fica terminantemente proibido show da fé que não seja apenas musical - mega-pregações públicas, show de milagres e coisas que tais passam a ser proibidos. "Milagres", se houver, devem reservar-se ao espaço físico do templo.

f) fica terminantemente proibido transmissão de cultos de milagres e maravilhas por qualquer meio - TV, rádio e internet.

7. Naturalmente que alguma coisa aí pode estar exagerada, e dependeria de uma reflexão mais apurada. Ser contratado, por exemplo, pela CLT, é coisa que muito pastor "tradicional", dono de Fusion e Opirus, não vai querer. Todavia, penso que, se não for assim, chegaremos ao "caos" - se o espetáculo deprimente dos programas evangélicos já não se pode considerar caótico...

8. Mas nada disso vai acontecer, porque não se trata dos interesses desses mega-apóstolos, mas de um sem número de "pastores do reino" que, no micro, não deixam de cometer seus próprios deslizes ético-morais. O problema do Valdemiro é o olho grande - se fizesse mais devagar, ia tranqüilo, como por aí está cheio. O sistema se ajeita.

9. Também os pastores "tradicionais", por simples corporativismo, vão jogar tudo para debaixo do tapete, com o argumento de que problema é o Valdemiro, não é o sistema.

10. Mas é o sistema, senhores - e não há nenhum sinal de que as coisas melhorarão: pelo contrário - os próximos anos serão aqueles que deverão entrar para os anais da história como os mais deploráveis da República - no campo religioso, claro.

11. Se o Estado não tomar providências.

12. Mas como, se os evangélicos estão a tomar o Congresso?

13. São tenebrosos os dias que nos esperam. No macro e no micro.




Um comentário:

NELSON LELLIS disse...

Definidos por Maimônides, o Rambam:

Há oito níveis de caridade, cada qual mais elevado que o seguinte.

1. O nível mais alto, acima do qual não existe outro, é apoiar um irmão judeu com um presente ou empréstimo, ou fazer uma sociedade com ele, encontrar emprego para ele, a fim de fortalecer sua mão até que não precise mais ser dependente de outros…

2. Um nível abaixo em caridade é dar aos pobres sem saber para quem está doando, e sem que o receptor saiba de quem recebeu. Isso é cumprir uma mitsvá apenas em prol do céu. É como o “fundo anônimo” que havia no Templo Sagrado [em Jerusalém]. Ali os justos doavam em segredo, e os pobres bons lucravam em segredo. Doar a um fundo de caridade é semelhante a este modo, embora não se deva contribuir para um fundo de caridade a menos que se saiba que a pessoa designada para cuidar do fundo é confiável e sábia, além de bom administrador, como Rabi Chananyah ben Teradyon.

3. Um nível abaixo desse é quando alguém sabe para quem está doando, mas o receptor não conhece seu benfeitor. Os Sábios mais notáveis costumavam caminhar em segredo e colocar moedas nas portas dos pobres. É realmente valioso e bom fazer isto, se aqueles que deveriam ser os responsáveis por distribuir caridade não são merecedores de confiança.

4. Um nível abaixo que esse é quando a pessoa não sabe para quem está doando, mas o pobre conhece seu benfeitor. Os Sábios costumavam atar moedas em suas túnicas e atirá-las por trás das costas, e os pobres iam apanhá-las nas costas das túnicas, para que não ficassem envergonhados.

5. Um nível abaixo é quando alguém dá diretamente ao pobre, na sua mão, mas dá antes que lhe seja pedido.

6. Um nível abaixo é quando alguém dá ao pobre após ter sido pedido.

7. Um nível abaixo é quando alguém dá de maneira inadequada, mas alegre e com um sorriso.

8. Um nível abaixo é quando alguém dá de má vontade.

E aí? Serve a visão judaica?
Abraços
Lellis

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