sábado, 17 de março de 2012

(2012/296) Advertência a mim e a quem de mim se acerca, curioso: autor nenhum substitui o próprio real

1. Não se pode entregar os olhos, a mão, os pés, a boca, a qualquer autor, qualquer que seja. Rasgo-me de elogios (e, quando a questão é elogio a autores, sou parcimonioso, mas, quando os faço, é prostaticamente que o faço) a Edgar Morin e a Domenico Losurdo. Há outros autores que me encantam - Mircea Eliade, por exemplo. São monstros geniais. Alguns, literalmente, gênios: como Edgar Morin, um dos poucos gênios vivos da humanidade.

2. Todavia! Nunca é salutar entregar-se a esses autores acriticamente. Deve-se lê-los com duas disposições de ânimo: 1. a crítica o mais imparcial possível, o rigor, a leitura atenta, minuciosa. Não é show, senhores, é leitura sobre a realidade, o real, o mundo. 2. E deve-se lê-los confrontando-os com o próprio real, seja diretamente, se somos capazes, seja por meio do recurso de outros autores, alinhados ou desalinhados. A confrontação crítica é indispensável.

3. O rei é o real. O critério, a matéria bruta. Todavia, aproximar-se do real e da matéria requer teoria, método. E esses senhores geniais ajudam-nos nesse preciso ponto: método. O próprio Nietzsche, contra tudo que dele se diz hoje nos manuais açucarados da filosofia de chá das cinco, sabia que o mais importante, dentre tudo, eram os métodos: "os métodos, cumpre dizê-lo dez vezes, são o essencial, e também o mais difícil, e também o que há mais tempo têm contra si os costumes e a preguiça" (Nietzsche, O Anticristo, LIX).

4. Todavia! Ainda é, ainda assim, o real o critério. As teorias e os métodos que esses senhores nos ajudam a manejar são recursos para irmos lá fora, nós mesmos, e olharmos com nossos próprios olhos. Quando, ao contrário, é a teoria e o método que se tornam o próprio mundo em que me perco, quando nossos trabalhos acadêmicos debruçam-se não mais sobre o real, mas sobre a teoria de José ou de Maria, então, senhores, se esse é o fim da pesquisa, trocar o real pela janela da casa do João, então, senhores, morreu a pesquisa, porque a janela serve é para olhar para fora, ou, alternativamente, fazer-se de quadro, transformar-se em arte, quando morre o real e vem à tona a fantasia.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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