quinta-feira, 1 de março de 2012

(2012/240) Alegoria breve de uma tarde rápida - anjos de antigamente e morenas de todos os dias

1. Eu me contava entre eles, mas não fui com eles. Atrasei-me. Todavia, também desci, curioso das morenas que, eles diziam, banhavam-se lá embaixo. Não havia morenas no céu, àquela época. Depois, sim, mas, naqueles dias, os primeiros, quer a tradição que não. 

2. E eu desci. E eram - mesmo! - mui lindas as morenas morenas. Uma delas me viu, anjo descido, e contou-me coisas que um anjo jamais imaginaria ser possível ouvir. E eu vi coisas que nunca imaginaria ver. E fiz coisas...

3. E decidi ficar. E fiquei.

4. Enoque, depois, escreveu uma história, em que disse coisas que não são verdade, apenas para disfarçar de nós, anjos descidos, e delas, nossas morenas de quem somos, os olhos enciumados de anjos que não descem nunca. Eles se satisfizeram com nossos espectros em forno lento, e nós ficamos felizes, emorenadamente enamorados.

5. Nunca mais subi. Talvez o céu esteja muito diferente. Às vezes dá saudade das nuvens. Mas elas, eu me lembro, eram frias, enquanto que essas pernas, esse colo, esse cheiro de canela...


OSVALDO LUIZ RIEIRO

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