1. Gosto de Ler Aldous Huxley. Li Admirável Mundo Novo, quando eu ainda era bem moleque. Depois, li de novo. O herói se mata no final da história. Anos depois, Huxley disse que não podia mais mudar a história que escreveu e que tem vida própria, mas que, se pudesse, não o mataria no final, porque, ele alegou, sempre há saídas, e criaria uma, como, talvez, uma vila distante, alternativa, além do suicídio e da submissão ao sistema. E é verdade - entre a submissão ao sistema eclesiástico pós-neo-qualquer-coisa e o suicídio, sempre há alternativas...
2. Depois li Entre o Céu e a Terra e As Portas da Percepção, sobre suas experiências, autorizadas por sua majestade, com LSD (ler o livro de Huxley e ler estudos de caso do Santo Daime é uma "viagem"). Finalmente, li Os Demônios de Loudun, o caso de "possessão" - mas todo caso de "possessão" tem de ser escrito com aspas, mesmo os do Novo Testamento - de um grupo de freiras francesas, há dois séculos e qualquer coisa. Um caso famoso.
3. Quero citar aqui dois trechos de Os Demônios de Loudun. Um, do capítulo um:
Declamadas por um bom ator - e todo grande pregador, todo advogado e político de sucesso é, entre outras coisas, um ator consumado -, as palavras podem exercer um poder quase mágico sobre seus ouvintes. Devido à irracionalidade intrínseca desse poder, mesmo os oradores mais bem-intencionados causam, talvez mais danos do que benesses. Quando um orador, valendo-se apenas da magia da palavra e de uma bela voz, persuade sua audiência da justeza de uma causa indigna, ficamos profundamente chocados. Devíamos nos sentir da mesma forma sempre que nos deparamos com os mesmos artifícios descabidos, utilizados para persuadir as pessoas quanto à justeza de uma boa causa. A crença gerada pode ser desejável, mas os recursos utilizados para isso estão intrinsecamente errados, e aqueles que empregam os estratagemas da oratória a fim de incutir crenças justas são culpados por servir-se dos menos recomendáveis recursos da natureza humana. Exercitando seu funesto dom da palavra, eles aprofundam o estupor semicataléptico no qual vive a maioria dos seres humanos, e do qual é intenção e finalidade de toda verdadeira filosofia e de toda religião verdadeiramente espiritual libertá-los. Além disso, não pode existir oratória brilhante sem simplificação exagerada. Entretanto, não se pode simplificar demais sem distorcer os fatos. Mesmo quando está fazendo todo o possível para não faltar com a verdade, o orador de sucesso é ipso facto um mentiroso. E os oradores bem-sucedidos, nem é necessário acrescentar, não estão sequer tentando dizer a verdade; estão procurando despertar a simpatia de seus amigos e a aversão de seus inimigos (Aldous Huxley, Os Demônios de Loudun. São Paulo: Círculo do Livro, 1992).
4. E, do Apêndice: "produzir deliberadamente a intoxicação das massas - mesmo que em nome da religião e supostamente 'para o bem' do intoxicado - não se justifica moralmente" (p. 328).
5. Acho inapeláveis os seus termos. Podem ser os melhores oradores e pregadores, mas, a meu ver, diante dessas considerações de Huxley, ficam sem palavras.
6. Ou enchem-se delas, nos termos, entretanto, em que Huxley magistralmente descreveu.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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