domingo, 5 de fevereiro de 2012

(2012/151) Teologia da Prosperidade e homossexualismo - uma flagrante contradição



1. Cristãos gostam de usar a Bíblia - seja contra os outros cristãos (seu calvinista infeliz!, seu arminiano dos infernos!, seu católico idólatra!, e por aí vai), seja contra os "pagãos". O termo é esse mesmo: usar. Mas se usa do jeito que se quer, do jeito que interessa. E, aí, a contradição é gritante.

2. Por exemplo - tem coisa que está escrita, então tem que fazer. Quem não obedece, para esse, Deus já preparou o inferno.

3. Mas tem coisa que está escrita, e, quando alguém faz, esse que faz é que vai para o inferno!

4. Não consigo entender (mentira, entendo, sim, entendo direitinho, é só modo de dizer, sei exatamente o nome do jogo, sei exatamente do que se trata).

5. Vamos analisar o comportamento dos evangélicos clássicos com relação a dois temas quentes.

6. Primeiro, o homossexualismo. Com toda a razão, os evangélicos clássicos dizem que a Bíblia condena o homossexualismo. E é verdade. Condena mesmo. Por exemplo, Lv 18,22: "com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é". 

7. De posse desse verso, os evangélicos vociferam contra os homessexuais - nós te amamos, eles dizem, mas o que vocês fazem é pecado - está escrito aqui. Bem, deixo de lado a questão de se, porque está escrito, tem de ser assim. Analiso apenas o fato de que é esse texto que os evangélicos usam e que esse texto diz, sem malabarismos, que homem não pode se deitar com homem.

8. Tá escrito, é de Deus - é de Deus, então cumpra-se.

9. E então... O mesmo evangélico - clássico! - lê Malaquias 3,10: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes".

10. Leu? Está escrito, com todas as letras que é para levar a grana para o templo e, depois, fazer prova de Deus, que ele vai abrir as portas do céu, derramar tanta bênção que não vai nem lugar pra guardar... Sem tirar nem pôr - Teologia da Prosperidade! Quem dá, prospera.

11. Aí, esse evangélico ouve os Malafaias da vida (de que desgosto visceralmente, mas isso é irrelevante). Ora, os Malafaias da vida, todos, praticam literalmente isso - pedem para as ovelhas levarem a grana - de preferência toda - para a "casa do tesouro", garantindo que, se isso fizerem, Deus abrirá os cofres...

12. Aí, os tradicionais vociferam: maldição!, pecado!, blasfêmia!

13. Ué? Não está escrito, igualzinho ao texto lá dos gays? Porque com os gays vale, mas com a Teologia da Prosperidade, não? 

14. Tá escrito? Se tá escrito, não foi Deus quem disse (ou não foi? - será?)? Se foi Deus quem disse, senhores, porque eles estão errados?

15. A não ser, senhores, que tenha sido Deus coisa nenhuma - que seja é coisa de sacerdote mesmo...

16. Mas, posso continuar?, se Malaquias é assim, será que... Levítico também? E, se Malaquias e Levítico são assim, será que Paulo também? Será que, no fundo, é tudo assim? Será que tanto Teologia da Prosperidade quanto homossexualismo, aprovação ou reprovação, são coisas culturais? Será?

17. Bem, não acho que os evangélicos levarão a questão até o fundo - não podem. O ser evangélico não pode pôr em crise essas questões, porque não sobra nada para pôr no lugar.

18. Os católicos são mais inteligentes. Mantêm, sem hipocrisias e dissimulações, a autoridade de Roma - se a traça comer a Bíblia inteira, Roma não se abala. Está lá, firme e forte. Arruma duas Marias e mais oito santos e tudo fica bem...

19. Já o evangélico e sua idéia infeliz de inventar que é a Bíblia - e é nada, porque não há nenhuma igreja evangélica que seja Bíblia: no fundo é tradição lendo a Bíblia -, se se fizer crítica Bíblica, não sobra nada.

20. Aí, coitado do povo, tem que ficar nessa: vai pelo gosto do pastor. Ele não gosta de homossexualismo - fácil, tem um texto chuchu beleza para sapecar pra audiência.

21. O problema é quando ele não gosta da Teologia da Prosperidade - aí, tem que fingir que Malaquias não é o Malafaia de Jerusalém, porque, se disser isso, vai que um fiel meio desconfiado pergunte justamente a pergunta que não pode ser feita: mas quer dizer então que tem coisa que está escrita, mas não vale?

22. Já viu gelo derreter? Vai ser igualzinho...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

3 comentários:

Igreja Batista Memorial da Posse disse...

AINDA TENTANDO UM CRITÉRIO P INTERPRETAR A BÍBLIA? TALVEZ SEJA A CRITICA TEXTUAL (EXEGESE, HISTÓRIA, ETC)? DO MESMO JEITO SÃO MODELOS E MÉTODOS EXPLICATIVOS PARA QUE A "PALAVRA DE DEUS POSSA SER AFERIDA POR UMA CIÊNCIA", SERÁ QUE DÁ? ESTOU LONGE DE ENTENDER A BÍBLIA, A IGREJA E SUAS MÚLTIPLAS INTERPRETAÇÕES. TALVEZ UM DIA EU CONSIGA EXPLICAR A RAZÃO DA ESPERANÇA QUE HÁ EM MIM. POR HORA EU SEI QUE ESTA ESPERANÇA É VIVA E É ELA QUE ME SUSTENTA, MESMO NA DÚVIDA.

PS. ACHO LEGAL A BUSCA PELO PENSAR LIVRE "Rasgar as linhas de todos os quadrados - e sem medo do sol." POIS SEMPRE NOS CONDUZ PARA UMA OUTRA PRISÃO. NOSSA LIBERDADE LIMITA-SE AO TEMPO E A PRISÃO. A QUESTÃO É: QUEM É MAIS LIVRE: OS ACADÊMICOS, QUE NUM ESFORÇO INTELECTUAL SÃO CAPAZES DE ABSTRAÇÕES PROFUNDAS METAFÍSICAS E QUÂNTICAS? OU UM PASTOR DE OVELHAS QUE CONSEGUE OUVIR DEUS FALAR QUANDO OLHA O CÉU, O FIRMAMENTO, O DIA, A NOITE? HOMEM HERMENEUTICO, COMO NÃO SER? LIBERDADE NÃO TEM NADA A VER COM PENSAMENTO, OU REFLEXÃO, TEM A VER COM EXISTÊNCIA. SOMOS OU NÃO SOMOS.
PZ

Peroratio disse...

Bem, não sei quem está falando comigo ("IB Memorial da Posse" não é uma pessoa), mas vamos lá.

1) "AINDA TENTANDO UM CRITÉRIO P INTERPRETAR A BÍBLIA?" Sim e não. No caso, não se trata disso. Trata-se de coerência. Se um versículo que manda fazer, você faz, e outro que manda fazer, e você não faz, mas critica quem faz, tem algo errado em sua prática ética. Mas o texto não trata de hermenêutica, pelo menos não tanto quanto de honestidade intelectual.

"PS. ACHO LEGAL A BUSCA PELO PENSAR LIVRE "Rasgar as linhas de todos os quadrados - e sem medo do sol." POIS SEMPRE NOS CONDUZ PARA UMA OUTRA PRISÃO. NOSSA LIBERDADE LIMITA-SE AO TEMPO E A PRISÃO. A QUESTÃO É: QUEM É MAIS LIVRE: OS ACADÊMICOS, QUE NUM ESFORÇO INTELECTUAL SÃO CAPAZES DE ABSTRAÇÕES PROFUNDAS METAFÍSICAS E QUÂNTICAS? OU UM PASTOR DE OVELHAS QUE CONSEGUE OUVIR DEUS FALAR QUANDO OLHA O CÉU, O FIRMAMENTO, O DIA, A NOITE? HOMEM HERMENEUTICO, COMO NÃO SER? LIBERDADE NÃO TEM NADA A VER COM PENSAMENTO, OU REFLEXÃO, TEM A VER COM EXISTÊNCIA. SOMOS OU NÃO SOMOS" - bem, depende do que você chamar de livre: nos meus termos, a possibilidade de pôr em dúvida radical seus próprios conceitos, fundamentos, valores, verdades, não há a menor dúvida de de que os "acadêmicos", se esse acadêmico não é um neurótico também. Todavia, quando penso em liberdade aplicada a igreja, não penso tanto no clero, que tem mais chances de ser livre - e se não é, é porque não quer. Penso mais nas ovelhas, essas, sim, coitadas, quantas vezes, aprisionadas e enganadas. Livres, elas? Tenho profundas dúvidas, e se a resposta a isso for a chave para entrar no céu - eu responderia sem medo que não, não, as ovelhas não são livres. Não podem se perguntar, sequer, se estão de fato certas...

Fica em paz,
Osvaldo

Igreja Batista Memorial da Posse disse...

NÃO ESTOU FALANDO DO TX, MAS DA PROPOSTA DO BLOG.

Sou pastor, fui seu aluno (do Prof. Oswaldo). Me vejo por vz em "sinucas" intelectuais, armadilhas teóricas. Temos, ou pensamos que temos, liberdade para pensar o que quiser. Será? Será que os acadêmicos são tão livres assim? Ou coerentes em suas linhas teóricas? Sempre fica um fio solto que alguém pode puxar e desmontar todo o nossa teia intelectual. A questão é como esconder o fio solto. Um exercício p teólogos, acadêmicos, tradicionalistas e/ou vanguardistas....Estamos procurando o fio solto. Vc de um lado e eu do outro.
Sei, entretanto, que o evangelho não é para enganar pessoas - mesmo que seja isso que esteja acontecendo na cena evangélica - posso responder pela minha prática pastoral focada no SER e no RELACIONAMENTO. Como critério aferidor, sempre que posso, mostro algum fio solto de nossa lógica teológica (na interpretação bíblica, ou no sistematização de nossas doutrinas). Por outro lado, a crítica que levanta dúvidas é sempre um exercício para a construção de uma FÉ MADURA e deve ser estimulada, correndo o risco de perder o controle (se é que temos algum) ou de estimular a descrença. Não tenho medo dessas coisas. Podemos sim, questionar os fundamentos doutrinários, teológicos, de fé (no sentido de crer Hb 11), a tradição, até Deus e a Bíblia como sua revelação. Tudo isso é passível de questionamento e crítica, mas como base em quê? Será que não ficamos deslumbrados com o modelo científico? Seja o iniciado no final do XIX, início do XX (pós positivismo - critica textual, interpretação socio-histórica, etc); seja o pós-construtisvismo? Simplificando será que a teologia não tem se corrompido ao buscar métodos e quadros teóricos de outras áreas do conhecimento (História, sociologia, antropologias, humanidades em geral)? Se dentro de cada uma dessas áreas há uma disputa epistemológica, por que se utilizar delas? Questiono sim o "academicismo" e os intelectuais (me incluo) pois achamos que o nosso nível de reflexão é maior do que o do "gado" ou das "ovelhas". Será que "elas" não escolheram ser alienadas? NÃO CREIO QUE DEVA SER ASSIM. E, É MINHA FUNÇÃO PROMOVER O ESCLARECIMENTO. Mas....é uma questão para nós (acadêmicos e intelectuais).
Por hora tenho minha "sinuca intelectual" tenho questões, ouço questões, mas sou pastor (líder). Tenho experimentado que quando estamos perto do ser-humano e ouvimos sua dor, questões, dúvidas, angustias, sonhos, vontades, mentiras, intenções, acontece algo que nem a academia, nem o dogma consegue dar conta, isso simploriamente chamo de RELACIONAMENTO, nisso vejo Deus no próximo e no que construímos juntos, talvez isso seja IGREJA. Por isso meu receio é que estejamos nos afastando disso (estar perto do próximo e de Deus) com os evangelicalismos pós-moderno, ou com o academicismo crítico.
Será que podemos viver um evangelho do amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, ou vamos continuar nos afastando de Deus e do próximo.
Este blog é uma benção para minha vida, pois quero continuar pensando, questionando, refletindo, duvidando, pois isso fortalecerá ainda mais minha e a nossa FÉ.

DESCULPE NÃO TER COLOCADO MEU NOME:
Sou Cezar Uchôa Júnior
Pr. Igreja Batista Memorial da Posse (Nova Iguaçu RJ)

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