1. Não é só no caso da Teologia da Prosperidade que os evangélicos não-neo-carismáticos, isto é, os que não aderiram (ainda?) à TdP são incoerentes ao criticarem as igrejas que a praticam - nesse caso, incoerentes porque criticam os neo-sacerdotes da prosperidade, mas não têm coragem (acho que nem se dão contam do que fazem!) de criticar a base bíblica que "permite" a coisa toda : Malaquias e Elias.
2. Também na crítica que se faz à moda corrente - e agora não só nas neo-não-sei-o-que, mas até em muitas igrejas "tradicionais" (se a elas se podem então, aplicar esse termo) - de judaização da liturgia e da parafernália cúltica. Óleos, candelabros, arcas, shofares, para citar os mais notórios.
3. Não me vejo entregue a liturgias regadas a essas ressuscitações folclóricas. Todavia, os "tradicionais" que reclamam da judaização da liturgia, cá entre nós, mordem o próprio rabo.
4. Em quê? No fato - a rigor, uma tragédia histórica! - de tomarem toda a sua interpretação prática (em muitos casos, também, a teórica), enquanto "igreja", do modelo e ideário do Templo de Jerusalém.
5. Tudo, no Cristianismo, construiu-se sob o signo do Templo de Jerusalém. Cada igreja evangélica - no Catolicismo isso é óbvio, mas pertence ao próprio sistema - entende-se sob o modelo do Templo de Josué, sumosacerdote. As atualizações de hoje - cantar virado para o "altar" (meu Deus!), por exemplo - nada mais constituem do que radicalização do espírito que anima a coisa toda desde que o sacerdócio clerical tomou as rédeas dessa religião.
6. Ora, uma igreja que toda ela é sacerdotal, como pode resmungar contra comunidades (nas quais eu não me enxergo, mas isso é irrelevante) que soprem em chifres de cordeiro, que ostentem arcas douradas, que se lambuzem de óleo?
7. Eu tenho sérias dúvidas se o Jesus que está por trás dos Evangelhos, aquele real, tinha alguma relação positiva com o templo. Duvido. O dos Evangelhos porta-se como um crítico do Templo - à toa, porque nenhuma crítica evangélica ao templo faz efeito, já que os evangélicos aplicam-na aos sacerdotes judeus, tornando-se invisíveis a ela.
8. Já Paulo, bem, Paulo e João são responsáveis diretos pela sacerdotalização da fé cristã, qualquer que tenha sido ela, no início, ao manejarem a pregação da fé por meio da metáfora teológica de Cristo como Cordeiro sacrificado no altar (a cruz). Se o próprio Jesus participaria desse exercício hermenêutico, tenho severas dúvidas. Aposto um braço que não.
9. A tragédia se dá pelo fato de que o Templo nunca foi lugar de peregrinação para Israel ou Judá. Era capela real. Lugar de culto nacional. Só isso. A expressão religiosa dos camponeses era mediada nas próprias vilas, por inúmeros agentes e mecanismos - sacerdotes dos altos, profetas carismáticos, "necromantes", sacerdotisas e outros. Nunca iam ao Templo como expressão de culto popular. Talvez até lá fossem, para conhecer e ver o "colosso", talvez os paramentos. Mas lá ir, como obrigação religiosa, isso nunca - desnecessário.
10. Tudo muda com a assunção dos sacerdotes ao poder, por força do império persa. Todas as alternativas de fé e liturgia que não centradas aí, nessa caixa de horrores, foram cassadas e destruídas. Tudo que era diversidade popular é morto - para dizê-lo de modo direto e simplista.
11. Quando a Igreja se construiu por meio desse modelo sacerdotal, esse, precisamente, do Templo de Jerusalém, não podia dar em outra coisa que não o que foi a sua história.
12. Por isso, exatamente por isso, tenho verdadeira aversão ao sacerdócio. Por isso, recuso-me terminantemente a tratar pastores e pastoras como "sacerdotes", "ungidos", "ministros", essa parafernália sacerdotal, de função estritamente político-social. São homens e mulheres - nada mais do que isso.
13. Mas a própria igreja gosta de se ver naquele Templo! Tragédia.
14. Aí, quando alguém quer brincar de soprar o shofar, explode a ladainha de judaização. Judaízação, senhores? Como assim, judaização, se não saímos do Judaísmo sacerdotal até hoje?, se nunca tiramos o pé lá de dentro!...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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