sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

(2012/125) Sexo e violência, religião e tortura - coisas do cérebro?


1. Uma das coisas mais interessantes que aprendi com neurociências, e, nesse caso, foi diretamente de Morin, meu mago heurístico-filosófico preferido, é que a parte do cérebro mais profunda, o paleoencéfalo ou cérebro reptiliano, é responsável pela administração do sexo e da violência.

2. Daí, se podem fazer duas observações. 

3. Primeiro, que isso explica a fronteira tênue entre sexualidade e violência, já que a área que cuida de ambas, no cérebro, é a mesma. Podemos pensar nas taras de modo geral, nas violências reais, estupro e pedofilia, por exemplo. Qualquer disfunção mínima, nessa área, trará conseqüências graves.

4. Mas se pode, igualmente, compreender porque a própria relação sexual não constitui lá uma encenação de missa, se me entendem: há uma dose de violência potencial em todo ato libidinoso.

5. O que nos leva à segunda observação: essa relação próxima entre sexo e violência tem a ver com a evolução da espécie humana, porque o que hoje se pode ter por um consenso cultural - monogamia -, não é a forma mais natural de acasalamento entre primatas, pelo contrário.

6. Machos-alfa são os únicos a copulares - legalmente. Os machos de hierarquia inferior têm que se virar para copular às escondidas com as fêmeas, o que ocorre, mas não sem riscos.

7. Não é possível, pois, separar, de um lado, sexo, violência e evolução sócio-biológica da espécie humana. E, de outro, não se pode perder de vista a proximidade cerebral entre esses dois elementos fundamentais da espécie humana: sexo e violência.

8. O que me intriga, nesse momento é: haverá alguma ligação cerebral entre as áreas que tratam da experiência religiosa e a violência, mais propriamente a tortura?

9. Talvez não seja exatamente a experiência religiosa, diretamente falando, ms alguma coisa ligada à religião de modo mais geral - e isso, sempre, em termos da operação cerebral do fenômeno. Quanto à violência, não penso exatamente - ou apenas! - na guerra propriamente, mas naquelas ações que demandam mais crueldade - a tortura, por exemplo...

10. Estou lendo tudo que me bate às mãos sobre neurociências, mas ainda não li nada específico. 

11. O que me leva a pensar nisso, todavia, é a consistência histórico-traditiva dos procedimentos inquisitoriais.

12. Deixo-os, senhores, senhoras, com essa galaria de justificativas para minha questão teórica.

Auto de Fé - 1475 (Pedro Berruguete)

Galileu, diante do Santo Ofício

13. Hum... Mas a essas cenas se poderia contra-argumentar que não se trata da religião em si, mas do poder, e, se o poder se encontra instalado na religião, cuida-se ser a violência religiosa em ação, quando, na verdade, é o poder. É possível. Vamos, então, aquelas cenas mais pontuais.







14. Minha hipótese: há uma sobreposição da área cerebral que trata, ao mesmo tempo, de aspectos relacionados à religião - em alguma de suas expressões - e aspectos relacionados à expressão da violência meticulosa, calculada. Não tenho os termos adequados. Sequer sei o que estou "vendo" exatamente. Mas eu diria que não é pura e simplesmente um sentimento - essa crueldade toda está marcada, eu apostaria, em nossa constituição cerebral, residindo aí por efeito de uma história da evolução que tratou, ao mesmo tempo, dos dois fenômenos, de tal forma que religião e violência acabam se aproximando, perigosamente, e constitutivamente, tanto quanto, a seu tempo e modo, sexo e violência.

15. Me agradaria bastante pesquisar esse fenômeno.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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