terça-feira, 24 de janeiro de 2012

(2012/075) Biologia - nossa próxima e exagerada viagem



1. Digamos que, grosso modo, os anos passados, todos, até aqui, foram os anos da Teologia (que, acho, sobrevive em aparelhos - é artificial a sua sobrevida), Filosofia, Matemática, Física, Química. Foi uma fascinante viagem - com perdas e ganhos.

2. Penso que a próxima viagem será a Biologia. É uma percepção com base em neurociências. Hoje à tarde, apostava com Julio Zabatiero que em 50 anos desvendaremos o funcionamento do cérebro, da mente e da consciência. Ele tem dúvidas. É menos otimista. Eu estou muito otimista.

3. Acho que será, como toda grande viagem, uma viagem exagerada, hipertrofiada, mas será, talvez, a mais espetacular de todas - tem tudo para ser, porque disso depende o conhecimento (talvez definitivo) de quem somos nós, seres humanos.

4. Digo que ela será hipertrofiada porque, pela experiência histórica que temos, essas corridas costumam levar os seus empreendedores a acharem que ali está a chave única de todo segredo. Assim, tudo se resumiu à Teologia, para teólogos, à Filosofia, para filósofos, à Matemática, para matemáticos, à Física, para Físicos, à Química, para Químicos. Costumamos ficar aleijados durante essas corridas históricas. Corremos o risco de tudo resumir-se à Biologia, para os biólogos. Nós e nossas espetaculares corridas hipertrofiadoras...

5. E estamos em plena primeira curva de uma delas - a biológica. Certo, ela começou pra valer há 150 anos, grosso modo, com Darwin - para estabelecermos um marco didático, apenas. Todavia, é agora que ela começa a entrar no quarto proibido, a ultrapassar o círculo mágico, o terreno inóspito, o tabu - a consciência humana.

6. Há uma vantagem, no nosso caso. Vivemos dias de transdisciplinaridade - incipiente, mas em vigor. Nem todos estamos curados, mas muitos, sob medicação. Há boas chances de a alucinação de que a única chave do mistério é a Biologia seja melhor controlada do que as alucinações anteriores, das fases de loucura e falta de juízo anteriores a essa.

7. Eu quero estar vivo para ver. A declaração de Nieztsche - a consciência é orgânica -, de Morin - a consciência é uma emergência cerebral - de Damásio - a consciência tem sua base no cérebro - chegará à popularização e seremos, como civilização, obrigados a enfrentar, honestamente, pela primeira vez, o fato de que precisamos deixar velhos mitos, teológico-religiosos, todos. Não a mística ou a espiritualidade - nome que detesto -, mas as doutrinas, todas.

8. Terá sido bom que a corrida biológica nos coloque diante dessa questão inegável depois de uns 200 anos de crítica filosófica iluminista. A sociedade está mais madura para enfrentar, de frente, que lhe metam a mão dentro da cabeça, como já lhe fazem com as tripas, os ossos, o sangue, a carne, a pele.

9. É verdade que dependeremos da passagem de velhas gerações, maduras demais para o novo, apáticas para a travessia, felizes com o mundo em que nasceram e querem morrer. Mas acontecerá. Não há como evitar. E, meus amigos, confesso, queria estar vivo para ver esse dia. Nele, à nossa volta, nada terá mudado - nada, absolutamente nada: mas dentro de nós, nada mais será como antes e, por isso, tudo à nossa volta mudará. Tomara que para melhor!

10. E serão dias de, mais uma vez, recolher toda a jornada humana, toda a nossa caminhada, nosso imenso cesto de conhecimento e transformar isso, novamente, em sabedoria.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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