1. Tivesse eu interesse ainda, e não tenho mais, talvez me dedicasse ao incentivo de um Cristianismo menos piegas, menos "espetaculoso", menos superlativamente espiritual e emotivo, menos ridículo - naturalmente que todos esses olhares são meus e, eventualmente, o Cristianismo bom é esse aí mesmo, como hei de saber, eu, justo eu?
2. Mas não gosto desse que está aí - fosse o da década de 80, talvez me adaptasse, a esse, não mais. De modo que, desgostando prostaticamente dele (como não usar o advérbio, se ele transparece em tudo que escrevo a respeito, até eu já me incomodo?!), mas não estando, ao mesmo tempo, interessado em reformá-lo, só posso dizer que, se gosto tivesse disso, é isso que faria: esgoelar-me a favor de um Cristianismo mais intimista, mais sóbrio, menos espiritual, menos, muito menos espiritual, menos piegas, menos melodramático, menos carente de atenção, menos interessado em show e teatro...
3. Mas cansado estou, desinteressado às burras, uma preguiça de desinteresse enorme, de sorte que ele vai seguir seu caminho e eu, o meu. Mas vou olhando de longe para ele, entristecido aqui, aborrecido ali, afrontado acolá, que a gente não deixa nunca essa sensação de o que foi que fizeram com meu brinquedo?
4. Mas vai lá, turma, solta a pieguice, a espiritualice, o evangeliquês! Curai, povo, vossas neuras nessas catarses espiritualizadas. Freud morreu cedo. Vivesse hoje, teria muito, muito material para outros tantos bestsellers...
5. Que falta sinto de um ambiente lúcido, natural, calmo, suave, normal, que eu pudesse chamar de meu, onde me sentisse em casa.
6. Acabou.
7. Quem sabe?, daqui a trinta anos, depois que nos cansarmos desses sensacionalismos pós-moderrnos?
8. Mas, se você gosta, vai lá, aproveita. Não dê tanta atenção a esse quase-já-velho e resmungão...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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