(2012/043) Da imagem, dos costumes, da automatização da gente

1. Nos morros cariocas - ao menos antes da "pacificação das favelas" -, grupos de traficantes, armados, reuniam-se, cantavam louvores ao "Senhor" e saíam para o trabalho, na esperança e na força de Deus...

2. No UFC, lutadores esmurraram a cara do contendor, ganharam, ou foi joelhada?, ou chave de tornozelo?, ou chute na cabeça?, não lembro mais, e, braço levantado ao céu, dedo erguido, olhos maravilhados, agradeceram ao "Senhor" a vitória...

3. O que isso significa? Para mim, nada. Quer dizer, significa muita coisa, mas, apenas, em duas direções - na dos personagens, autômatos, a agir sem reflexão mais profunda. Como olhar para o sujeito a sangrar no chão e agradecer a Deus? Como sair para o crime e agradecer a Deus?

4. Psicologicamente, automatização acrítica das ações. No campo histórico, as práticas de guerra santa da tradição judaico-cristã, como em Macabeus, por exemplo, espada na mão e louvor na boca. 

5. Passam-se os séculos e não aprendemos nada. Nada. Absolutamente nada. Uma teologia cada vez mais pobre, porque "rica", paupérrima, porque tão vulgar quanto papel-jornal de fim de feira...

6. Para o lutador crente, é um absurdo que traficantes tenham o desplante de orar. É, que atrevimento, não? Mas, do ponto de vista de dois cristãos a esmurrarem-se num jogo um tanto quanto violento, conquanto legal, que diferença faz? Sim, não é crime - e não é mesmo: mas Deus tomou partido? Pesou a mão do bombado mais do que a do magrinho?, tirou-lhe o reflexo na hora do joelhada na cara?

7. Ora, senhores!

8. Deve ser por isso que há tanto pobre, tanta mulher violentada, tanta criança morta de fome no planeta: Deus está ocupado demais decidindo vitórias no UFC...

9. E dá-lhe testemunho, agora... Culto lotado, pode apostar... Ah, apostar, não, que é pecado...

OSVALDO LUIZ RIBEIRO