segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

(2012/041) Batistas e iurdianos: do imaginário retórico-político "missionário"



1. Depois de ter postado os vídeos do "direito de resposta" das entidades representativas das religiões afrobrasileiras à TV Record (cf. post anterior), fiquei pensando - e durante boa parte da noite, sem conseguir conciliar-me com o sono - sobre o modo como batistas e iurdianos fazem seu trabalho evangelístico.

2. Os batistas concentram-se em agências missionárias. Para fora, a Junta de Missões Mundiais. Para dentro, Nacionais. Grosso modo, porque há outras agências menores, regionais. Mas concentrei-me em pensar como a coisa se dá no nível dessas duas "janelas".

3. Para fora, o imaginário batista concentra-se - hoje - no mundo islâmico. Não é que só se pensa em evangelizar islâmicos, mas a retórica, o marketing, o trabalho de convocação e as campanhas de mobilização - basicamente de pedido de ofertas - se concentram nesse imaginário: o movimento islâmico no mundo.

4. Internamente, o discurso concentra-se nos católicos, nos grandes centros de difusão da fé popular, como, por exemplo, Belém e o Círio de Nazaré.

5. É curioso que essa agenda seja, para todos os fins, uma agenda "importada". Posso ver nela, ainda, um fio que se estende desde a Reforma, passando, mais recentemente, pela agenda - inclusive militar - estadunidense. Como tudo entre os batistas é importado, parece que o seu imaginário político-missionário  ainda depende dos indicativos tradicionais no Norte (como os recentes modelos de Igreja). Hoje, o diabo são os muçulmanos, como, até ontem, foram os russos. Amanhã - aguardemos! - serão os chineses... O Norte dá as cartas. Nesse sentido, o imaginário interno - "o diabo são os católicos" - ainda depende dos movimentos inaugurais dos batistas no início do século XX, aqui no Brasil, cuja identidade construiu-se contra a presença majoritária católico-romana.

6. Já a IURD alterou tudo. Deixou o modelo europeu-estadunidense de lado, incorporou à sua linguagem e à sua imagética/retórica a cultura de base brasileira - afrobrasileira - e reinventou o Evangelho. Aí, o diabo não segue a agenda do Norte: não são os muçulmanos nem os chineses. São os cultos afrodescendentes. É verdade que a IURD ensaiou um ataque aos católicos - por exemplo, o episódio do chute na santa (e talvez permaneça no confronto Record x Globo). Mas, qualquer que tenha sido a razão, recuou, e empreende sua cruzada "evangelística" contra os adeptos das religiões de matriz africana.

7. O que isso significa? Grosso modo, estamos diante de uma característica fundamental do Cristianismo histórico - ele depende visceralmente, de um "diabo", de alguém contra quem lutar, de alguém para enfrentar, conquistar, submeter, vencer. Talvez seja a sua substância monoteísta, talvez seja o seu contexto de nascimento polêmico, talvez seja a sua história de enfrentamentos militares-civilizatórios, desde que tornado religião do Império. O fato é que missões, para os batistas e os iurdianos, é cruzada - libertação à espada, terapia que já assistimos na África (os negros), na América (os índios), na Índia, na Austrália, na África do Sul...

8. Mas não nos cansamos. Ainda temos fôlego...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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