1. Penso que se você consegue pensar para além dessas alternativas: teísmo, ateísmo, politeísmo, panteísmo, deísmo etc. -, então você começou a se livrar do sulco metafísico dos últimos milênios.
2. Não, não "vale" fazer de conta que saiu de lá, girando em torno do próprio eixo, na forma de "poesia" e "metáfora" - assim, não só não se saiu de lá (se é que se quis!) como se (faz) amarra(r) ainda ao pé da mesa uma multidão de incautos.
3. Sair da alternativa é fazer como o estraga-prazer, o desmancha-prazer, do clássico de Johan Huizinga: Homo Ludens - é olhar para essas alternativas e tomá-las como que que são: racionalizações da mente humana em torno de seus sonhos de milênio: não quero mais brincar disso...
4. Para mim, a próxima teologia, a que efetivamente há de se tornar "acadêmica", encarará honestamente essas questões como idéias - mais do que mitos, racionalizações, e assim as estudará. Inclusive contra elas...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(PS. talvez eu devesse ter incluído a "mística" [ao menos certa mística] onde eu escrevi "'poesia' e 'metáfora'" - mas aqui é preciso ser mais cauteloso, a coisa é mais difícil de ser encarada com um olhar mais reto).
4 comentários:
Como vai, Osvaldo!
Uma forma de pensar para além daquelas alternativas poderia ser simplesmente deixar de pensar em qualquer metafísica.
Não é rejeitar o teísmo para pregar a realidade do ateísmo, ou do agnosticismo, já que esses são expressões religiosas em sua essência, adotadas por homens de fé como o são os demais -istas, mas simplesmente deixar de pensar nisso, ou, quando a idéia lhe vier à cabeça, pensar, "bom, disso eu não sei nada".
Mas, sendo essa nova teologia, que um ou outro já encara da forma que deve ser, ao menos você o faz, sendo essa nova teologia o estudo dessas questões como idéias, deixar de se ocupar dela como não se ocupa de medicina, ou de direito, ou de engenharia química, ou de outros conhecimentos acadêmicos, simplesmente porque não quero me ocupar deles.
Se me puxam para uma discussão sobre partículas sub-atômicas e sua utilização para a formação de anti-matéria, eu simplesmente digo que essa não é, mesmo, a minha área. Então por que não fazer o mesmo - no meu caso ou de outras pessoas que não tem ligação com a questão teológica como você tem na sua profissão - com as questões metafísicas?
E por que é tão difícil - ia dizer impossível, mas ia ficar hiperbólico demais - agir assim?
Luciano, no fundo, há duas "coisas" nessa sacola. 1. De um lado, o ateísmo, o teísmo e os outros -ismos, isto é, o conteúdo desses sistemas de crenças. 2. De outro lado, os processo psicológicos, culturais e históricos de os fabricar e manter. Para mim, a nova teologia deveria deter-se não sobre os conteúdos, como verdades possíveis (são mitos), mas sobre os processos biológicos, psicológicos, culturais e históricos que os engendraram e os mantêm. A despeito de os conteúdos serem imaginativos, serem apenas isso, idéias, os processos antropológicos que os geram, não, e é sobre os processos que a nova teologia deveria se deter.
Então, Osvaldo, enquanto essa nova teologia não surge formalmente, pois desconfio que aqui e ali pulsa latente, onde é que se lê sobre esses processos?
Sei que você já deu várias dicas esparsas, mas facilita a nossa vida e libera aí uma bibliografia básica, vai! (rsrsrsrs)
Até Ricardo Gondim (no post "O que eu li para ser quem eu sou") e Augustus Nicodemus já o fizeram. Dá o peixe dessa vez, e na próxima rodada prometo que a gente pesca.
Osvaldo, me antecipei a você e montei a lista de livros abaixo a partir da leitura de alguns posts seus. Se quiser opinar, acrescentar, sugerir, eis-me aqui.
Platão – A República / Detienne - A Invenção da Mitologia
Aristóteles – Organon; Ética a Nicômaco; Política
Kant – Crítica da Razão Pura
Schopenhauer – O mundo como vontade e como representação
Feuerbach - A essência do Cristianismo
Marx – Teses sobre Feuerbach; A ideologia alemã; O 18 Brumário de Luís Bonaparte
Nietzsche – Humano, demasiado humano; A gaia ciência; Assim falou Zaratustra; Além do bem e do mal; Genealogia da Moral; O crepúsculo dos ídolos; O Anti-Cristo / Domenico Losurdo – Nietzsche, o rebelde aristocrata
Dielthey - A Construção do Mundo Histórico nas Ciências Humanas; Essência da Filosofia; Introdução às Ciências Humanas; Tipos de Concepção do Mundo
Heidegger (o primeiro, o que bebe em Kant e em Husserl, em Schleiermacher e Dilthey) – Ser e tempo
Edgar Morin – O método
Karl-Otto Apel – Transformação da filosofia
Jorge Grespan – Revolução Francesa e Iluminismo
Um abração.
Postar um comentário