1. O sentimento é aquilo que está aqui dentro - é química, construída com pequenas porções do mundo, gotas de matéria, minúsculas, que desabrocham, flor psíquica, na forma de afeição, de gosto, de estilo. É a água na boca, o aperto no coração, a excitação do toque arrepiado do pós-banho, a cor do pôr-do-sol, o som de James Blunt. É a alma da gente, por assim dizer, que a alma, meus caros, nesse caso, é isso de acender-se hoje a apagar-se quando nos deitarmos para aquele sono inevitável...
2. O conhecimento, não. É o que está lá fora, o que não é minha própria psiquê - enquanto psiquê operante, agente, viva. É o pó da estrada, o brilho do sol, a gosma da lesma, a unha do urso, as fezes da mosca, a luz da vela, o ar da noite. Num certo sentido, é o Universo despontando e tocando a si mesmo, mas, anotemos, nunca enquanto ele mesmo, mas enquanto eu, esse piscar ínfimo e minúsculo, passageiro e fortuito, acidental e só. É a tripa do mundo sobre si mesma, em perspectiva efêmera e particular...
3. A relação não é nem sentimento nem conhecimento, é relação, é dar de cara com outro eu, igual a mim mesmo, mas diferente, outro, outros gostos, outra voz, outra cara, conquanto a mesma carne. Posso fazer de um cão o meu outro, mas o outro é, apenas, aquele que pode agir e ser meu outro, outro eu, outra pessoa.
4. Nós - eu - somos - sou - esse jogo de três dimensões: o dentro, o fora, o entorno de iguais. A modernidade levou isso muito a sério. Os dias atuais estão a rasgar os livros, fazer de mim, do mundo e do outro uma coisa indistinta. Andar para trás.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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