terça-feira, 22 de novembro de 2011

(2011/529) Enquanto isso, aqui embaixo... Ou: isso é um dedo?




















Independent: A Goldman Sachs conquista a Europa

Nova democracia a que preço? A Goldman Sachs conquista a Europa

Enquanto as pessoas comuns falam sobre austeridade e emprego, os corredores do poder da zona do euro estão passando por uma impressionante transformação - por Stephen Foley, no Independent, em 18.11.2011.

A ascensão de Mario Monti como primeiro-ministro italiano é marcante por mais razões que é possível contar. Ao substituir o surfista de escândalos Silvio Berlusconi, a Itália tirou do poder o ‘intirável’. Ao impor governo por tecnocratas não eleitos, a Itália suspendeu as regras normais da democracia e talvez a própria democracia. E ao colocar um assessor sênior da Goldman Sachs no controle de uma nação ocidental, elevou a um novo patamar o poder político de um banco de investimento, o que talvez seja política e proibitivamente tóxico.

Esta é a coisa mais marcante de todas: um salto gigantesco para ou talvez a culminação bem sucedida do Projeto Goldman Sachs.

Não é apenas o sr. Monti. O Banco Central Europeu, outro player crucial no drama da dívida soberana, está sob o controle de um ex-gerente da Goldman, e a turma do banco de investimento domina os corredores do poder de quase todas as nações europeias, como fez nos Estados Unidos durante a crise financeira. Até quarta-feira, a divisão europeia do Fundo Monetário Internacional era controlada por um homem da Goldman, Antonio Borges, que renunciou por questões pessoais.

Mesmo antes da confusão na Itália, não havia sinal de que a Goldman Sachs estava deixando de merecer o apelido de “Lula Vampiro” e agora que seus tentáculos alcançam o topo da zona do euro, vozes céticas estão levantando dúvidas sobre esta influência. As decisões políticas que serão tomadas nas próximas semanas vão determinar se a zona do euro conseguirá pagar suas dívidas — e os interesses da Goldman estão intimamente ligados à resposta.

Simon Johnson, o ex-economista do Fundo Monetário Internacional, em seu livro 13 Bankers, argumenta que a Goldman Sachs e outros grandes bancos se tornaram tão próximos de governos depois da crise financeira que os Estados Unidos se tornararam efetivamente uma oligarquia. Pelo menos os políticos europeus não são “comprados e pagos” pelas corporações como nos Estados Unidos, ele diz. “Em vez disso o que você tem na Europa é uma mesma visão de mundo compartilhada pela elite política e por banqueiros, uma série de objetivos comuns e de ilusões mutuamente reforçadas”.

Este é o Projeto Goldman Sachs. Colocado de forma simples, é abraçar de perto os governos. Toda empresa quer fazer avançar seus interesses junto a reguladores ou a políticos que podem oferecer uma isenção de impostos, mas isso não pode ser chamado mais simplesmente de ‘lobby’. A Goldman está lá para assessorar governos e para dar financiamento, para colocar seus funcionários no serviço público e para oferecer empregos lucrativos a pessoas que deixam o governo. O Projeto é criar uma troca tão profunda de pessoas, ideias e dinheiro que será impossível apontar a diferença entre o interesse público e o interesse da Goldman Sachs.

O sr. Monti é um dos mais importantes economistas da Itália e gastou a maior parte de sua carreira na academia e em institutos de pesquisa, mas foi quando o sr. Berlusconi o indicou para a Comissão Europeia em 1995 que a Goldman Sachs começou a se interessar por ele. Primeiro no cargo de comissário para o mercado interno, depois comissário especial de competitividade, ele tomou decisões que poderiam facilitar ou não as aquisições e fusões promovidas por banqueiros da Goldman ou financiadas com dinheiro do banco. Mais tarde, o sr. Monti dirigiu o comitê do Tesouro italiano sobre o sistema bancário e financeiro, que definia a política financeira do país.

Com estas conexões, era natural que a Goldman o convidasse para fazer parte de seu comitê internacional de assessores. As duas dúzias de asssessores internacionais da Goldman agem informalmente como lobistas junto aos políticos que regulamentam as atividades do banco. Outro assessor é Otmar Issing que, como membro do Bundesbank alemão e do Banco Central Europeu, foi um dos arquitetos do euro.

Talvez o mais proeminente ex-político dentro da Goldman é Peter Sutherland, procurador-geral da Irlanda nos anos 80 e outro ex-comissário da União Europeia. Ele agora é o presidente não-executivo do braço da Goldman baseado no Reino Unido, a Goldman Sachs International, e até o colapso e nacionalização era o diretor não-executivo do Royal Bank da Escócia. Ele foi uma voz importante na Irlanda no debate sobre o resgate do país pela União Europeia, argumentando que os termos dos empréstimos de emergência deveriam ser relaxados, para não exacerbar as dificuldades financeiras. No verão, a União Europeia concordou em cortar os juros pagos pela Irlanda.

Escolher políticos bem conectados na porta de saída dos governos é apenas metade do Projeto, colocar gente da Goldman em governos é a outra metade. Como o sr. Monti, Mario Draghi, que assumiu o Banco Central Europeu em primeiro de novembro, entrou e saiu de governos e entrou e saiu da Goldman. Ele foi integrante do Banco Mundial e diretor-gerente do Tesouro italiano antes de passar três anos como diretor-gerente da Goldman Sachs Internacional entre 2002 e 2005 — para retornar ao governo como presidente do Banco Central italiano.

O sr. Draghi foi perseguido por controvérsia por causa dos truques de contabilidade que usou na Itália e em outras nações da periferia da zona do euro para que se adequassem à moeda única, uma década atrás.

Ao usar complexos derivativos, a Itália e a Grécia foram capazes de reduzir o tamanho de suas dívidas de governo, que as regras do euro exigiam ser menores que 60% do tamanho da economia. E os cérebros por trás de vários desses derivativos eram de homens e mulheres da Goldman Sachs.

Os corretores do banco criaram uma série de operações financeiras que permitiram à Grécia levantar dinheiro para cortar seu déficit de orçamento imediatamente, em troca de pagamentos futuros.

Em um dos negócios, a Goldman deu 1 bilhão de libras de financiamento ao governo grego em 2002, numa transação chamada cross-currency swap. Do outro lado, trabalhando com o Banco Nacional da Grécia, estava Petros Christodoulou, que tinha começado a carreira na Goldman, e que tinha sido promovido a chefe do escritório de gerenciamento da dívida do governo grego. Lucas Papademos, agora instalado como primeiro-ministro do governo unitário da Grécia, era um tecnocrata que dirigia o Banco Central da Grécia na época.

A Goldman diz que a redução da dívida da Grécia obtida através das operações acima citadas foi pequena, mas expressou algum arrependimento a respeito dos negócios. Gerald Corrigan, um sócio da Goldman que havia servido ao Tesouro americano em Nova York, disse em depoimento no Parlamento britânico, no ano passado: “Está claro, em retrospectiva, que os padrões de transparência poderiam e provavelmente deveriam ter sido maiores”.

Quando a questão foi levantada em audiência do Parlamento europeu para a confirmação de sua nomeação para o BCE, o sr. Draghi disse que não se envolveu nos negócios, nem como membro do Tesouro italiano, nem como assessor da Goldman.

Foi impossível evitar o pior na Grécia, que sob as propostas mais recentes da União Europeia vai dar o calote na dívida ao pedir a credores que assumam uma perda “voluntária” de 50%, mas o consenso atual na zona do euro é que os credores de nações maiores, como a Itália e a Espanha, precisam ser 100% pagos. Estes credores, naturalmente, são os grandes bancos do continente, e a saúde deles é a principal preocupação dos definidores da política europeia. A combinação de medidas de austeridade impostas por novos governos tecnocratas em Atenas e Roma e pelos líderes de outros países da zona do euro, como a Irlanda, com os fundos de resgate do FMI e da European Financial Stability Facility, apoiada pela Alemanha, são resultado deste consenso.

“Meus ex-colegas do FMI estão correndo para tentar justificar resgate de 1,5 a 4 trilhões de euros, mas o que isso significa? “, diz Simon Johnson. “Significa resgatar os credores em 100%. É outro resgate dos bancos, como em 2008: o mecanismo é diferente, já que está acontecendo no nível da dívida soberana, não bancária, mas as razões são as mesmas”.

A elite financeira está tão certa de que os bancos serão resgatados que alguns estão apostando tudo em tal solução. Jon Corzine, um ex-presidente da Goldman Sachs, retornou no ano passado a Wall Street depois de uma década na política [como governador do estado de Nova Jersey] e assumiu o controle de uma firma chamada MF Global. Ele fez uma aposta de 6 bilhões de libras em dinheiro da firma de que os papéis da dívida italiana seriam resgatados.

Quando a aposta foi revelada, no mês passado, clientes e parceiros decidiram que fazer negócio com a MF Global era muito arriscado e a firma faliu em dias. Foi uma das 10 maiores falências da história dos Estados Unidos.

O grande perigo é que, se a Itália parar de pagar suas dívidas, os bancos credores vão se tornar insolventes. A Goldman Sachs, que tem mais de 2 trilhões de libras em seguro, inclusive para uma quantia não revelada da dívida da zona do euro, não escaparia sem danos, especialmente se parte dos 2 trilhões tiver sido comprada de um banco que vier a falir. Nenhum banco — e especialmente a Lula Vampiro — pode facilmente livrar seus tentáculos dos tentáculos dos parceiros. Esta é a razão para o resgate e a austeridade, a razão pela qual estamos recebendo mais Goldman, não menos. A alternativa é uma segunda crise financeira, um segundo colapso financeiro.

Ilusões compartilhadas, talvez? Quem ousaria testar?

(via Viomundo) - original: aqui.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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