quarta-feira, 27 de julho de 2011

(2011/449) A fé escorre pela TV e empoça sob as estantes


1. Estou completamente perdido, eu acho. Sem salvação... Se tento assistir a dois minutos de um programa evangélico, católico, cristão, porque não conheço outros (não caem nas malhas do zap), sou imediatamente tomado por ânsias de vômito.

2. É somático. O corpo rejeita. Se eu retornasse a um outro doutorado, ou a um pós, e me fosse mandado assistir a esses programas, para aplicar a eles uma análise, trancaria o curso. Minhas carnes sofrem. O corpo manda que eu saia da sala, que desligue a TV, que eu corra, que eu fuja, que eu salte pela janela...

3. Estou louco? Ou caímos realmente numa armadilha? O "direito" de a Teologia ir a público. E ela vai! Ah, vai - sistematicamente, ela e seus tentáculos. Tudo bem - há quem defenda a Teologia Pública e que sinta quase o mesmo asco que eu por esses programas. Mas, cá entre nós: que outra Teologia há?

4. Assis se foi. Lutero, faz-me rir. A da Libertação, já agoniza - e, mesmo assim, não eram de todo diferentes ao extremo - todas tinham potencial.

5. Mas o que me deixa perplexo é que estejamos dentro de uma armadilha: com um lado da cabeça percebemos o crime que é cada segundo de encenação midiática da fé, a correição dos escandalosamente aproveitadores da fé, mas, com a outra metade da cabeça, defendemos o direito desse crime desenrolar-se diante de nossos olhos. Políticos, eu entendo: há razões para querer uma população inteira hipnotizada: a bancada teológica de Brasília alimentará essa fornada por todos os anos de seu mandato. Mas nós, teólogos?

6. Argumentamos pela liberdade de consciência, mas cuspimos na cara do povo, negando-lhe educação. Eles não sabem - tomados de uma credulidade interessada e interesseira, deixam-se arrastar de modo aviltante, humilhante - um país de joelhos! Que lástima! Não se trata do "povo" enquanto abstração - trata-se do povo brasileiro, do futuro desse país.

7. Dependesse de mim, em TV aberta, sob nenhuma circunstância, esses programas seriam transmitidos. Nenhum deles, de nenhum desses pastores megalomaníacos - e nem de padres. Nem católicos nem evangélicos nem protestantes... Ninguém. Naturalmente, então, que nenhum outro.

8. Intolerante!, gritarão nas minhas costas... Hipócritas!, retrucaria... Na Noruega, somos tolerantes com o demente loiro. Aqui, com os diabos da água benta. Lá, tiros numa centena. Aqui, transfusão de sangue em milhões... Lá, ele fez escondido. Aqui, à luz do dia - e da noite!

9. Temo que estejamos num atoleiro tão profundo que, quando desejarmos sair dele, terá se transformado em areia movediça...

10. E os teólogos falando em re-encantamento do mundo... com a cara mais angelical que se possa conceber, alguma coisa entre anjos de Rafael e torcedores organizados...

11. Deus, dá-me estar louco...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

2 comentários:

Robson Guerra disse...

Oi, Osvaldo

Qual a diferença entre o conteúdo dessa Teologia Pública e o da série Sobrenatural?

Robson Guerra

Debbie Seravat disse...

Essa é a loucura mais sã! Sinto-me tão assim em relação a tudo rotulado de evangélico, que a solidão de Elias já não tem mais sentido algum. (Será que foi Elias mesmo que bradou seu lamento solitário? Acho que perdi minha memória bíblica.)

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