sexta-feira, 22 de abril de 2011

(2011/242) Ortega y Gasset e meus 45 anos


1. À medida que Senhor Jimble permite, e Civilization V cansa, Ortega y Gasset tem sido meu companheiro nesse feriado de febre baixa. Iniciei a leitura em 1997. Mas, pelo visto (as anotações param na p. 70, por ali), parei de ler. Ficou na estante. Veio com os poucos que pude trazer do Rio para Vitória. Estou a ler - não sei por que...

2. Uma leitura interessante, já disse dois posts atrás. Dessa vez, Ortega y Gasset acaba de me dizer o seguinte: sob o regime da teoria das gerações como fundamento do tempo histórico, são agentes históricos de fato os homens entre 30 e 60 anos. Ao homem entre 30 e 45, cabe encher-se de sua ideologia, de angariar suas estruturas de raciocínio, de eleger os valores e os princípios com que seu mundo será criado. Depois, dos 45 aos 60, cabe aprofundar isso - nada mais.

3. Ei-lo: "de trinta a quarenta e cinco corre a etapa em que normalmente um homem escontra todas as suas novas idéias, ao menos as matrizes de sua original ideologia. Depois dos quarenta e cinco vem só o desenvolvimento pleno das inspirações tidas entre os trinta e os quarenta e cinco" (Ortega y Gasset, Em Torno a Galileu, p. 57).

4. Imediatamente, penso: tenho exatos 45, saio de uma faze e entro em outra. E quem carrego comigo? Quem devorei, dos 30 aos 45? Isto é - quem serei eu, aprofundando-me dentro de mim, nos próximos quinze anos?

5. De pronto? Morin e Eliade - Edgar Morin e Mircea Eliade. Não li ninguém com mais afinco, com mais delícia na alma, ninguém, do que os dois. Mesmo a Bíblia. A Bíblia, minha inseparável companheira, leio-a cada vez mais à luz do que me tornei com Eliade e Morin (nessa ordem). Nenhuma declaração da Bíblia interditará Morin - Morin orientar-me-á na leitura dela. Isso deixa claro quem determina quem...
Edgar Morin - minha mente...
Mircea Eliade - minha alma...

6. Outros passarma por mim, e, registro, marcaram-me: Ginzburg, Detienne, Nietzsche, Dosse, Asimov, Searle. Mas em nenhuma medida comparam-se ao que Eliade e Morin fazem dentro de mim. Com Eliade tive uma experiência xamânica - li Tratado de História das Religiões deitado no chão da sala, na Rua Mathias Braga, em dezoito horas de transe... Morin caiu-me às mãos por magia do destino - numa banca de livros na PUC... Meus dois deuses/diabos pessoais, meus orixás epistemológicos.

7. E, então, me pergunto: o que haverei de aprofundar em mim, doravante? O que não li - perdi? O que não li, disso posso, apenas, aproximar-me, mas não mais engolir? Em que me tornarei, filho e fruto de Eliade e Morin, agora, depois dos 45, em viagem de aprofundamento?

8. Um vento frio de cinema bate em minha testa, meu cabelo voeja... Olho para a frente, e finjo que não está ali a parede do apartamento, mas a pradaria siberiana... Foi uma sorte enorme, a estar certo Gasset, que Morin seja minha alma, e Eliade, meu espírito. Será uma viagem deliciosa - devorar-lhes as carnes, roer-lhes os ossos, beber de seu tutano... eu, espeleólogo antropófago...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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