1. Estou a ler Ortega y Gasset, Em Torno a Galileu. Um livro interessante. Muitas citações a anotar, muitos parágrafos a colorir, e tantos que, daqui a pouco, será como a Reforma - todos os dias são santos, logo, nenhum o é... Num mar de tantas citações relevantes, há que se registrar as mais dentre as mais...
2. E deparo-me com essa: "intelectualmente, somos um Banco em falência fraudulenta. Fraudulenta, porque cada qual vive com seus pensamentos, e, se esses são falsos, são vazios, falsifica a sua vida, rouba-se a si mesmo" (Ortega y Gasset, Em Torno a Galileu, Vozes, p. 39).
3. Aí está: pensamentos vazios, falsos, com os quais se rouba a própria vida. Morin chama a isso self decption. São falsos porque a eles não corresponde a realidade - eles não se encaixam senão no princípio do prazer: tem de ser assim a vida. Mas não é. É de outro jeito. O pensamento que quer porque quer mente a si mesmo uma força que não tem, porque cuida que o desejo de que a coisa seja de tal forma faz com que de fato seja ou venha a ser.
4. Há, pois, um desfalque na realidade - emitem-se notas falsas. Ou há fraude contábil, ou fraude de falsificação de moeda - geram-se papéis que, a rigor, não correspondem a qualquer garantia. Mil carregam os papéis - fossem dez mil! Quantos mais os portam, maior a fraude...
5. Uma sociedade que se acostuma a viver com pensamentos ad hoc, válidos de acordo com o momento - mas sem lastro para tudo o mais, não tenderá, fatalmente, a transportar esse modus vivendi para todas as áreas da vida, quanto mais as significativas? Não se pode enriquecer assim, facilmente - mentindo?
6. A crise de 2008, engendrada programaticamente, politicamente, astuciosamente, academicamente, desde a Casa Branca até Wall Street, passando pelas Universidades dos USA, pela mídia, pelos corretores e pelo povo, não foi, para todos os efeitos, uma crise "pragmática"? A crise inexorável de uma sociedade que inventa de viver de não-fundamentos, desde que todos brinquem de aceitar a ausência deles como a maior prova de garantia e segurança?
7. O não-fundacionismo é um mal terrível. Mas é que tem a seu favor o fato de que há interesses muito grandes em sua defesa. Não é à toa que a onda passou, a destruição do tsunami se deu, e é como se nada tivesse acontecido, porque as placas tectônicas que se moveram - quero dizer, os homens que brincam de deuses - permanecem, cada qual, no seu mesmo posto, a emitir as mesmas notas, os mesmos papéis, a fazer magia com o nada e a transformar mentira em dólar... A mentir para a multidão dos que querem ser enganados - e são.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. E deparo-me com essa: "intelectualmente, somos um Banco em falência fraudulenta. Fraudulenta, porque cada qual vive com seus pensamentos, e, se esses são falsos, são vazios, falsifica a sua vida, rouba-se a si mesmo" (Ortega y Gasset, Em Torno a Galileu, Vozes, p. 39).
3. Aí está: pensamentos vazios, falsos, com os quais se rouba a própria vida. Morin chama a isso self decption. São falsos porque a eles não corresponde a realidade - eles não se encaixam senão no princípio do prazer: tem de ser assim a vida. Mas não é. É de outro jeito. O pensamento que quer porque quer mente a si mesmo uma força que não tem, porque cuida que o desejo de que a coisa seja de tal forma faz com que de fato seja ou venha a ser.
4. Há, pois, um desfalque na realidade - emitem-se notas falsas. Ou há fraude contábil, ou fraude de falsificação de moeda - geram-se papéis que, a rigor, não correspondem a qualquer garantia. Mil carregam os papéis - fossem dez mil! Quantos mais os portam, maior a fraude...
5. Uma sociedade que se acostuma a viver com pensamentos ad hoc, válidos de acordo com o momento - mas sem lastro para tudo o mais, não tenderá, fatalmente, a transportar esse modus vivendi para todas as áreas da vida, quanto mais as significativas? Não se pode enriquecer assim, facilmente - mentindo?
6. A crise de 2008, engendrada programaticamente, politicamente, astuciosamente, academicamente, desde a Casa Branca até Wall Street, passando pelas Universidades dos USA, pela mídia, pelos corretores e pelo povo, não foi, para todos os efeitos, uma crise "pragmática"? A crise inexorável de uma sociedade que inventa de viver de não-fundamentos, desde que todos brinquem de aceitar a ausência deles como a maior prova de garantia e segurança?
7. O não-fundacionismo é um mal terrível. Mas é que tem a seu favor o fato de que há interesses muito grandes em sua defesa. Não é à toa que a onda passou, a destruição do tsunami se deu, e é como se nada tivesse acontecido, porque as placas tectônicas que se moveram - quero dizer, os homens que brincam de deuses - permanecem, cada qual, no seu mesmo posto, a emitir as mesmas notas, os mesmos papéis, a fazer magia com o nada e a transformar mentira em dólar... A mentir para a multidão dos que querem ser enganados - e são.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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