terça-feira, 12 de abril de 2011

(2011/222) Do eu - permanente mudança


1. A vida não é apenas teimosia - é teimosia e reconstrução, renovação, é teimosia contra a ininterrupta maré de ondas bravias a desgastarem os tecidos... Trocamos (quase?) tudo em nos, a ritmos distinttos. Trocamos o colágeno (de nossa pele, por exemplo) a cada 1000 dias. As células dos intestinos delgados, a cada 3 dias, células do sangue, a cada 180 dias. Um homem de 100 kilos substituirá, diariamente, cerca de 100 gramas das proteínas constitutivas de seu organismo.

2. Tudo isso para vencer o princípio universal da desorganização - a entropia. Se pararmos de viver, nosso corpo desintegra-se, dissolve-se, desorganiza-se - a morte é a vitória da entropia sobre o princípio da organização viva. E a vida não vencerá, jamais, essa batalha - pode adiá-la muito: há seres vivos com 10.000 anos na Terra. Suspeita-se de fundos siberianos com 600.000. Mas não serão eternos...

3. Dessa máquina que se renova a cada dia, o "eu" permanece. Eu sou eu desde que nasço, e até - pelo menos? - o dia de minha morte. Eu sou eu. Mas - sou mesmo? Também o eu não se renova?Também o eu que eu sou hoje não é um eu diferente do eu de ontem? O fenômeno físico, organizacional, biológico, químico, elétrico, hormonal, neuronal e enzimático do qual emerge o "eu" que sou permanece o mesmo, conquanto cada componente se altere com o transcorrer dos dias. Alteram-se os componentes celulares, altera-se a própria emergência fenomênica - o "eu". O que permanece - e tem de permanecer! - o mesmo,m é o fenômeno de manutenção dessa emergência. Se o fenômeno pára, se a máquina trava, o "eu" dissolve-se, acaba, entra em colapso, desorganiza-se...

4. Mas eis aí uma coisa da qual o "eu" jamais saberá... porque, sabê-lo, com certeza, implica em estar lá para o saber...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO


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