1. Cemitério. São Paulo. Um carro da PM. Dois policiais. Mais distante, uma senhora. Um policial sai do carro. Leva consigo alguém. Disparos. O policial acaba de alvejar, a queima roupa, uma pessoa.
2. A senhora liga para 190. Narra o que vê - a cena acima. Registra tudo ao vivo. Um "furo de reportagem". O policial de aproxima. Ela já narrara tudo ao 190. Ele nega. Afirma, categoriacamente, que se tratou de reação a resitência. "Olha bem para a minha cara", ela diz. Ele insiste.
3. São dois policiais. Ela está só. A corregedoria vai inquirir. Versão deles - legítima defesa. Dela, execução sumária. Eles são dois. Ela, uma só. Democracia - ganha a maioria! Foi legítima defesa. Verdade como consenso público... Outro nomes para cisas do dia a dia...
4. Mas alto lá. Chame-se a perícia. Analisem-se as pistas deixadas na cena do crime. Confrontem-se as pistas com as duas versões. Quem ganhará a disputa? Galileu ou a Igreja?
5. Não - não faz nenhum sentido, absolutamente nenhum sentido, tratar-se a "verdade" de um valor democrático ou uma estratégia de consenso. Não. Verdade nada tem a ver com discursos consensuais - tem a ver com fatos. A "democratização" da verdade, aí vá lá. Mas quem quer a verdade?, essa coisa desagradável, esse princípio de realidade... Melhor dormir nos mitos - mesmo os modernos... ou pós...
6. Os batistas têm - mas desrespeitam à larga! (nunca vi uma igreja que o levasse a sério) - um princípio. Está no site da CBB - a Convenção oficial dos batistas (brasileiros). Ele diz que, no que diz respeito à "vontade divina", nem a maioria, nem a minoria, tampouco a unidamidade reflete necessariamente a vontade de Deus: cada concílio, um pecado, cada sessão, uma blasfêmia - se julgarmos pelas orações! Mas volto ao tema: a "vontade divina" não depende de minoria, nem de maioria, nem de unanimidade. Mudando de pão pra cavalo: a verdade não é questão de minoria, nem de maioria, nem de unanimidade - ela é, e pronto. Cabe a nós nos situarmos nas condições antropológicas adequadas e possíveis ao seu apreender e dizer. Não se trata de estética. Nem de política. Trata-se de heurística. Ponto.
7. Ah, e, sim, a verdade pode morrer. Pode. Uma nação inteira pode crer em "mentiras". Mas, anotem: enquanto houver ao menos um homem (ou mulher), a verdade pode ser recuperada, perseguida, encontrada, descoberta. Se vai ser aceita? Bem, aí, sim, é uma questão política. Porque se crê no que se quer crer - e, quantas vezes?!, até contra as evidências.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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