1. A provocação é de Carlos Drummond de Andrade. Quando os deuses falam, os mortais devem se calar - é a Lei da religião, da mística, da fé. Mas sou herege.
2. Rigorosamente o mesmo de quando alguém passa por lá - com exceção de que, "agora", ao lugar, acrescentou-se o "alguém". A questão, todavia, não tem a ver com o alguém lá. Tem a ver com a compreensão de que os homens interpretam as coisas - e, se você admite que, se não interpretam, elas não estão lá, ou são diferentes de como você as interpreta...
3. Não se pode confundir interpretação com imaginação/invenção/alucinação - conquanto, eu sei, haja, sim, um componente de imaginação, de invenção e de alucinação nas representações "corretas" do real.
4. Mas o lugar - que é o lugar? No nível adequado ao homem - não se trata do quântico, claro!, nem do astrofísico, naturalmente! - um sistema dinâmico de sólidos rasgados por luz. A luz ricocheteia nos sólidos, e espalha-se em todas as direções. Isso, precisamente, independe do observador. Agora, se um observador capacitado a sensibilizar-se pela luz, capta essa mesma luz e a interpreta, então aquele lugar, tal qual ele é, aparece à mente dessa pessoa na forma interpretativa.
5. Se você assume que o real é isso que enxergamos - azul, verde, branco... -, é natural que o lugar, se você não está lá, não olha para ele, dissolve-se. O azul é um efeito ótico/psicológico da luz. Mas a luz não é esse efeito. Se não há alguém olhando, não há azul, há, todavia, a luz, o sólido a por-se no caminho dela.
6. O lugar permanece lá. O cenário é o mesmo. O mesmo como ele é - seja o que ele for. Mas só será aquele cenário humano se um humano olhar para ele. Mas o cenário não é isso que o humano vê - isso que o humano vê é sua representação. O lugar não muda quando o homem se vai. Muda é quando ele chega...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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