quarta-feira, 6 de outubro de 2010

(2010/484) Não haverá (jamais?) outra Reforma...


1. Erasmo e Lutero discutiram seriamente. E, parece, desamigaram-se. Fala-se que Erasmo medrou, acovardou-se, e que teve medo da "reforma". Esses têm em Lutero a figura do homem de coragem, do grande reformador... Bem, não precisavam ter brigado... É verdade que os argumentos de Erasmo estavam todos certos: a Reforma gerou uma balbúrdia, uma Babel de fé, uma confusão dos infernos... Se Deus multiplicou as línguas dos homens que ousaram bater à porta do céu (viram como se podia chegar a Deus, mesmo subindo a um templo... babilônico?), estou muito convencido de que Deus multiplicou a fé, quero dizer, criou centenas delas, milhares, milhões, - e com fé não quero dizer nada mais do que dogmas, essas pílulas de l0ucua instantânea - naqueles que ousaram desafiar a Torre. Todavia, a razão pela qual Lutero e Erasmo não precisavam ter brigado é que, no fundo, Lutero - bem como todos os seus milhões de seguidores, todos, sem exceão, permaneceram... católicos... Com uma diferença terrível: multiplicaram-se os papas, como as moscas do Egito...

2. Parece que a razão fundamental da Reforma foi o dinheiro: vendiam-se casinhas no céu. Uma meia água aqui, um sobrado ali. Até mansões, se você tem cobres. Hoje, qual a diferença? O dinheiro virou, outra vez, a Deusa da Igreja. E nenhum aliado há melhor para o dinheiro eclesiástico do que as TV - obra do diabo, para uns, de Deus, certamente, para o clero evangélico! Há alguns anos, você passava em frente a uma igreja e ouvia o coro - agora, o tilintar da moedas, que, somadas todas, contam 30 dinheiros...

3. Não haverá Lutero, todavia, podem tirar o cavalo da chuva. Para a Igreja do XVI, bastava um Lutero, posto que ela era, igualmente, uma. Mas hoje? Hoje são milhões... Qual a probabilidade de haver milhões de Lutero, quando o que há são enxames de Simões? A hipótese de Deus mesmo se cansar disso tudo é muito remota, porque a paciência de Deus é infinita, assim como Ele mesmo o é, disseram, e se crê. Assim, é bom que nos apressemos em nos acostumar a essa Babilônia Fragmentada.

4. Não vou aqui falar dos pecados da Mãe Igreja. Que deles falem seus filhos. Bastardo que sou, filho de uma das Excomungadas, meto-me é com minha própria paróquia. E como lastimo seus dias, e os meus. Sabem aquela expressão de Eclesiastes: "não vejo neles contentamento"? Pois é. É meu caso. E, conquanto grisalho esteja, não cheguei exatamente aos 45, de modo que é triste que um homem chegue tão cedo à conclusão de que a massa levedou, o fermento apodreceu, o bolo solou, estragou-se a festa.

5. Fora eu um católico, esperaria a conversão da Igreja, e "da" porque única. Mas sou protestante, e, ainda que cada uma das milhões de nossas Igrejas evangélicas e protestantes seja uma pequena Roma, com seu clero e papa, há, todavia, já se viu, milhões, e, cá entre nós, não há arrependimento em massa.

6. Não sou Lobsang Terça-Feira Rampa e, logo, não tenho a Terceira Visão - logo, não sei o que será de nós. Só sei que estamos a caminho do inferno - e como os dias estão velozes...

7. A hora é de resistir. O avião está em queda. É agarrar-se na cadeira, pôr a cabeça entre as pernas e rezar, para quem é de reza, orar, para quem é de oração, e chorar, para os dois. No final, depois do grande estrondo e explosão, abrir os olhos, e ver se, afinal, sobrevivemos. As chances são mínimas, advirto... Mas a boa notícia, o bom Evangelho é que, afinal, não se terá, então, perdido grande coisa, porque, afinal, quando os frutos apodrecem, morrem. Às vezes, germinam desde dentro da podridão da fruta... Mas só às vezes...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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