1. O travo amargo do amor, o nó que se coloca na garganta da gente, essa estranha sensação em face do amor, explica-se pelo fato de que o amor é a expressão da falta essencial humana, da sua incompletude, do seu inacabamento, de modo que, postos no mundo, cada um de nós é um aleijado, não menos do que os de fato, porque, se a eles falta um membro, um olho, um dedo, a nós todos nos falta mais do que um motor, mais do que uma alma, mais do que a moldura - falta-nos a condição de acabamento, de completude, de termo. Somos, você e eu, "pedaço", um pedaço jogado ao mundo...
Dio come ti amo - Gigliola Cinquetti
2. Não se trata de um defeito que, eventualmente, a farmacêutica corrigisse, mercê de remédios, a religião, graças a poções, magias e rezas, ou a filosofia, mediante doses de contemplação e reflexão. Nada disso - trata-se da condição de projeto: somos nascidos propositadamente incompletos, inacabados, inexatos, faltantes, coisas a ser, e nunca chegando a ser...
Dio come ti amo - Domenico Modugno
3. O amor é a expressão da tentativa intrínseca de cada um de nós de completar-se. Não, o amor não nos completa, absolutamente - ele tão somente sobre-excita a percepção da falta, traduzida, então, em alucinado desejo. Amar é, por isso, desesperar-se de falta, e, desde aí se conclui, sentir para sempre o gosto amargo, o travo, na boca. Talvez as relações terminem quando o travo desaparece, e eis, ali, perambulantes casa adentro, dois inacabados imperceptíveis: não servem mais um ao outro. Pior do que pedaços cegos, são pedaços que se entregaram ao engano de se bastarem...
Dio come ti amo - Silvia Mezzanotte
Dio come ti amo - Rosalia Misseri
4. Só há um momento, apenas um, não mais, em que a sensação do inacabamento intrínseco humano desvanece - o êxtase. E tanto faz de que tipo ele seja. O êxtase do orgasmo. O êxtase religioso. Ah, e aí podemos entender, finalmente, o sentido do Tantrismo, unindo, em liturgia orgástica, ambos os êxtases, prolongando ao máximo o momento de "lucidez"... Mas, alto lá, como assim, "lucidez"? Não somos, afinal, aquilo que se estabelece no orgasmo ou na "visão" - aquilo é outra coisa, outro ser, outro projeto, efeito colateral do amor, a fusão de um eu insular, inacabado, com outro ser insular, inacabado, como o interessante conto do livro O Despertar dos Deuses, de Issac Azimov. Eu sou o inacabamento, a incompletude, a inexatidão - que, sim, busca freneticamente a completude, o acabamento, a exatidão, mas que, quando o encontra, morre, posto que ser "eu" é ser, sem sursis, um pedaço apenas.
Dio come ti amo - Joe Damiani Trio
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. para ti, amor, razão do travo de minha boca, do amargo de minha língua, quando minha boca engole em seco a visão de ti, o desejo que é fruto dessa falta essencial que me define, e que faz de mim um vento atrás da clareia aberta, que é teu corpo, a água que corre da montanha, até os pés de teu mar. Amar-te é o sentido da minha vida, é a explicação de minha existência, e a minha paz cotidiana...
Dio, come ti amo! Non è possibile Avere tra le braccia Tanta felicità, Baciare le tue labbra Che odorano di vento, Noi due innamorati, Come nessuno al mondo. Dio, come ti amo! Mi vien da piangere, In tutta la mia vita Non ho provato mai Un bene cosi caro, Un bene cosi vero... Chi può fermare il fiume Che corre verso il mare... Le rondini nel cielo Che vanno verso il sole? Chi può cambiar l'amore, L'amore mio per te? Dio, come ti amo!
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