1. É óbvio que tudo o que vier adiante é ironia rasgada, de modo que não vá perder seu tempo com análises profundas e reflexões sofisticadas. Estou "zoando" com (um)a (certa) Teologia - e é só isso. Comecemos da seguinte maneira: assista à essa pérola do rei dos locutores da TV brasileira - Galvão Bueno. Depois, então, conversamos. Vai lá e volta.
2. Bem, antes de recomeçarmos, quero pedir minhas sinceras desculpas por fazê-los assistirem ao Galvão - eu sei, isso custará noites não dormidas. Mas a causa é boa. Perceberam que Galvão tem um Física própria? Você olha a imagem, vê claramente a bola saindo do campo, fazendo uma curva no ar e retornando para dentro das quatro linhas. Qualquer moleque sabe fazer isso. Aliás, quero ver é um moleque fazer a bola seguir reta no espaço! Mas, como o rei dos locutores já havia dito que era impossível, nem Deus vai demovê-lo - é impossível, e pronto. Há uma Física da Natureza, há uma Física do futebol, tributária daquela - e há a Física do Galvão, baseada na sua autoridade de dizer o que considera ser o que deve dizer, e diz porque é quem é - o rei da cocada preta...
3. Isso me faz pensar na Teologia - mesmo a que está no MEC. Lá atrás, há séculos, ela era uma espécie de câmara hiperônima para todas as outras modalidades de acesso ao "real". Uma a uma, as ciências foram saindo de dentro dela, mesmo a Física do cristianíssimo Newton. Mas, à medida que iam nascendo, as ciências logo percebiam que sua mãe não entendia bulufas dos novos campos do saber, e, quando "entendida", esforçava-se sobre-humanamente para impedi-las de continuarem vivendo, tão nocivos são os filhos para certos tipos de pais.
4. Não demorou muito para que as ciências - todas - abandonassem o lar teológico. Emanciparam-se, digamos. Mas a Teologia fingiu que não viu. Mais - tratou de considerar essa debandada uma espécie de motim, de rebeldia. Além disso, a Teologia manteve suas próprias "ciências", que usa em suas argumentações e fundamentações. A Teologia, por exemplo, tem sua própria Antropologia, que ela chama de Antropologia Teológica, e, ainda mais acintosamente, Antropologia Missionária (com recurso ao Geertz, acreditem-me!). A Teologia tem sua própria Sociologia. Tem sua própria Biologia. Até Física Quântica, agora, ela tem... Você ouvirá os argumentos "científico-humanistas" da Teologia, e ficará de cabelo em pé - onde raios estudou essa senhora? Em Nicéia, ora, onde mais?, em Latrão, em Éfeso, e, mais recentemente, para desespero da Exegese, na "Bíblia".
5. Se você não está a fim de levar o dia muito a sério, se está a fim de divertir-se um pouco, com humor de quinta, mas até humor de quinta tem lá suas vantagens, é recomendável asistir a aulas de Teologia cujo eixo de articulação seja a tradição e a confissão a qualquer custo. Se você sai de uma aula de Psicologia, e entra numa aula dessas, acredita que foi abduzido! Aí, na hora, você lembra do Galvão e de sua Física particular - a Física do Galvão é consoante sua própria necessidade, assim cmo as "ciências" da Teologia são construídas sob medida para os planos de aula...
6. Aí você entende por que a Teologia, essa, de inventar para si uma ciência paralela, odeia, com ódio de morte, o século XIX. É preciso matar a ciência no seu nascedouro. Mas mais do que isso: assim como o sacerdócio teocrático e hierocrático de Jerusalém cooptou a imagem dos profetas, para fazer deles garotos-propaganda do projeto sacerdotal, vendendo-o como se fora profético desde o berço, desde sempre, é preciso que a Teologia, mais do que assassine, coopte as ciências, fazendo crer a incautos que cada linha das Fundamentais, das Sistemáticas, das Dogmáticas, tem fundamento científico. É por isso que nos artigos que defendem o estatuto - atual - epistemológico da Teologia no MEC asseveram que foi um erro do Parecer 118 não incluir um eixo epistemológico teológico entre os eixos estabelecidos no voto - é que a Teologia acha que ela pode não apenas estabelecer sua própria Antropologia, sua própria Sociologia, sua própria Psicologia etc., mas, o que é pior, que pode impôr-se sobre as Ciências a partir de sua perspectiva "divina" - fala sério! Só a pretensão da Teologia em constituir-se como visão "divina" já a coloca como fortíssima candidata ao troféu Física do Galvão...
7. Cabe a Teoloia, e agora falo sério, "abaixar a bola", reconhecer-se em formação, considerar que os cem mil anos de sua existência geral e os dois mil de dua existência cristã não emprestam fundamentos confiáveis para sua inserção no rol das ciências universitárias. Como ao Galvão caberia pedir tira-teima e constatar que a bola saiu, sim, em lugar de inventar, ad absurdum, uma Física particular, cabe à Teologia reconhecer que ela deve, ainda, descobrir do que realmente ela entende - que outros não entendam, mas podem entender -, reconhecendo, conseqüentemente, que, daquilo que faz parte do mundo real - dos homens aos cosmo - não será ela, em hipótese alguma - a dar explicações...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. Como a Teologia tem sua própria Gramática, deixem-me esclarecer uma coisa. Na oração "aulas de Teologia cujo eixo de articulação seja a tradição e a confissão", o fato de não haver virgula entre "Teologia" e "cujo" significa que se trata de um tipo de Teologia, dentre outros tipos possíveis. Fica, pois, pressuposto que há Teologias que são assim e há Teologias que não são assim. Se eu tivesse empregado vírgula, transformaria o discurso a seguir em aposto, o que caracterizaria, de pronto, toda a Teologia. Mas o bom leitor saberá entender, gramaticalmente, que estou "zoando" com um tipo de Teologia - um tipo... A afinal, sou teólogo...
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